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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Nossa Senhora de Fátima: Milagre ou Intervenção Extraterrestre?

Dia 13 de maio completam 100 anos da aparição de nossa Senhora de Fátima e desde então centenas de livros, artigos, reportagens e documentários abordaram o fenômeno, tentando explicá-lo. As teorias mais desconcertantes e fantásticas foram concebidas sobre assunto, e muitos autores chegaram a afirmar tratar-se de intervenção alienígena.

Texto de Cláudio Suenaga, extraído de seu livro ainda inédito APARIÇÕES DA MÃE DE DEUS CONTRA O ANTICRISTO

Em 1917, Portugal, governado por Bernardino Luís Machado (1915-1917), estava à mercê das facções políticas e à beira da ditadura, que se implantaria definitivamente em 1928 com o golpe perpetrado por Antônio de Oliveira Salazar (1889-1970), formado em direito pela Universidade de Coimbra e que ensinou economia política no mesmo estabelecimento. Sob o reinado de Dom Carlos I (1889-1908), agravou-se a crise financeira herdada de governos anteriores, e cresceu a agitação política; numa tentativa de restabelecer a ordem, em 1906 o soberano confiou poderes ditatoriais ao ministro João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco (1885-1929); dois anos depois, explodia uma revolta em Lisboa, e Dom Carlos era assassinado com seu filho mais velho. Sucedeu-lhe Dom Manuel II, destronado em 5 de outubro de 1910 por uma revolução que estabelecera uma forma republicana de governo, toscamente moldada pelo padrão norte-americano, a partir de 1915. A nova Constituição fora promulgada em 1911.

A República havia sido proclamada, portanto, há apenas sete anos num país que vivera sob a Monarquia desde o século XII, quando da instauração da Casa de Borgonha por Dom Afonso I (1139-1185). Com a queda do reinado, veio o declínio da religião – pois, embora o povo português permanecesse fiel à Igreja Católica, o governo provisório, a fim de estabilizar a economia e a estrutura social do país, determinou a expulsão dos jesuítas e a extinção dos conventos, legislou sobre o divórcio e decretou a separação da Igreja e do Estado. Abertamente hostil à Igreja, acabou rompendo relações com Roma em 1913 e disseminou uma ampla campanha de propaganda anticlerical. As propriedades eclesiásticas foram confiscadas, congregações dissolvidas e o clero era tratado praticamente como uma casta inferior. A intelligentsia e vários setores formadores de opinião eram marxistas, antirreligiosas e decididamente anticlericais. Os governantes tornaram-se antagônicos às crenças religiosas tradicionais, qualificando-as frequentemente como meras superstições veiculadas pelos jornais e revistas demagógicos e sensacionalistas. Até mesmo as áreas rurais, geralmente imunes aos ditames intelectualistas dos centros cosmopolitas, foram afetadas pelo fechamento compulsório das igrejas e pelo estreito controle de qualquer expressão religiosa. A despeito de tudo isso, remanesceu profundo o fervor entre os camponeses, de hábitos religiosos arraigados, nas áreas rurais. E foi exatamente ali que se verificou a série de aparições da Virgem.

Enquanto isso, pela primeira vez na história da humanidade, nações da Europa e de quase todos os continentes digladiavam-se em conflito armado, irrompido em 28 de junho de 1914 com o assassinato em Sarajevo, na Bósnia (território eslavo então pertencente à Áustria), do herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Ferdinando (nascido em 1863), e de sua esposa Sofia, duquesa de Hohenberg (nascida em 1868), por Gavrilo Princip (1894-1918), estudante e terrorista bósnio-sérvio com armas fornecidas por uma sociedade secreta pan-eslavista de Belgrado, os Mãos Negras. Ferdinando pretendia transformar o Império Austro-Húngaro em Império Austro-Húngaro Eslavo, de modo a diminuir a luta pela independência dos eslavos sob domínio austríaco. O Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia e logo a Europa inteira tomava parte: de um lado a Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França, Rússia e mais tarde a Itália, o Japão e os Estados Unidos) e do outro a Tríplice Aliança (Áustria-Hungria, Turquia e Alemanha). Portugal entrara na Primeira Guerra ao lado da Grã-Bretanha, mas, isolado no extremo da Península Ibérica, estava imune aos ataques e às devastações que os aliados sofriam dos alemães.

Também pela primeira vez a tecnologia moderna era largamente empregada em uma guerra. Em abril de 1915, na segunda batalha travada em Ypres (22 de abril a 15 de maio), os alemães introduziram o uso de agentes químicos, mesmo ano em que se começou a fazer uso de aviões, inicialmente para espionar os territórios inimigos, e dos dirigíveis zepelins, estes para bombardear a zona do Canal da Mancha. Na Batalha de Somme, entre julho a novembro de 1916, os ingleses introduziram os tanques de guerra, que não passavam de tratores equipados com metralhadoras e canhões.

Naquele ano de 1917, a frente russa se desmobilizaria devido a crescente instabilidade interna. As derrotas militares agravaram a crise econômica, generalizando o descontentamento da população russa que, em março, acabou depondo o czar Nicolau II (1868-1918). Formou-se um governo provisório, liderado por Aleksandr Fyódorovich Kerensky (1881-1970). Nesse momento, os soviets (conselhos de operários) eram controlados pelos mencheviques, partidários dos interesses da burguesia liberal. Coerente com sua postura, Kerensky fez a Rússia prosseguir na guerra. A Revolução Republicana de Março não atendera as principais reivindicações e necessidades. Em setembro, Leon Trótsky (1877-1940), líder bolchevique (partido que defendia a imediata instauração do socialismo) reorganizou a Guarda Vermelha, formada por operários, e derrubou o Gabinete de Kerensky. E em novembro, os bolcheviques, liderados por Lênin [Vladimir Ilyitch Ulianov (1870-1924)], tomaram o poder exigindo a saída imediata da Rússia da guerra, a posse das indústrias, da terra, das riquezas naturais e das instituições financeiras. Os soviets elegem o Conselho de Comissários do Povo, formado por Lênin, Trótsky e Stálin. A Revolução Russa derrubou o sistema capitalista e ergueu os alicerces para o primeiro Estado socialista proletário da história, alvo de veementes reprovações por parte da Virgem.

A Primeira Guerra Mundial estava em sua fase mais aguda e sangrenta, com a Guerra de Trincheiras – elemento mais característico que substituiu a Guerra de Movimentos (deslocamento de tropas), que predominou no início –, a entrada, em 6 de abril, poucos dias depois da primeira Revolução Russa, dos Estados Unidos – que até então apenas fornecera suprimentos aos países da Tríplice Entente, a essa altura à beira do colapso militar, daí o clamor de que enviassem tropas, abandonando assim sua renitente política isolacionista – e o processo revolucionário socialista em pleno andamento na Rússia, quando, num lugarejo ermo e pedregoso na aldeia de Aljustrel, freguesia de Fátima (cidade localizada no centro de Portugal, entre a capital, Lisboa, e o Porto, no norte, e perto de Ourém), três crianças que costumavam levar carneiros para pastar nas proximidades, Lúcia de Jesus dos Santos, e seus primos Francisco e Jacinta Marto, afirmaram ter visto uma “mulherzinha muito linda e brilhante”.

Nas aparições subsequentes, quase sempre por volta do meio-dia, milhares de pessoas presenciaram estranhos fenômenos, embora apenas os três enxergassem a Santa. O topo da azinheira, de pouco mais de 1 metro de altura, curvou-se no momento em que a Senhora, envolta em luz, elevou-se suavemente até desaparecer a leste. Os brotos do topo tombaram na mesma direção, só retomando a posição natural algumas horas depois. Alterações súbitas abaixaram a temperatura, em pleno verão. Nuvens incomuns pairaram sobre a azinheira. Zumbidos foram ouvidos. Um globo luminoso se moveu do nascente para o poente e partiu em sentido contrário. Os encontros se repetiam todos os meses, sempre no dia 13, até que culminaram, em outubro de 1917, com o fantástico “Milagre do Sol”.

Anjo da Paz

Precedendo a Virgem, como se tratasse de anunciá-la, o “Anjo de Portugal” ou da “Paz” apareceu envolto em luz aos três pequenos pastores. A primeira vez foi na primavera ou no verão de 1916, numa loca (gruta pequena) do Outeiro do Cabeço, perto de Aljustrel. Uma nuvem translúcida na forma de um corpo humano moveu-se pelo céu claro e finalmente pousou sobre um bosque de pinheiros. Conforme narrou Irmã Lúcia, “alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia estava sereno. Então começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direção ao nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma de um jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios de Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições: um jovem dos seus 14 aos 15 anos, de uma grande beleza. Estávamos surpreendidos e meio absortos. Não dizíamos palavra. […] A atmosfera do sobrenatural, que nos envolveu, era tão intensa, que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixando, repetindo sempre a mesma oração.”

A segunda foi no verão de 1916, sobre o poço da casa dos pais de Lúcia, junto ao qual as crianças tangiam seu rebanho de ovelhas pelas pastagens de Couza Velha. Surpreendidos por uma tempestade de verão, refugiaram-se numa caverna próxima e decidiram comer sua merenda e aguardar até que a tempestade amainasse. Assim que terminaram de rezar o rosário, a chuva cessou de súbito e, ao deixarem a caverna, foram saudados por uma forte ventania que soprava entre os pinheiros. Ao procurarem a causa de tal vento, depararam-se com a mesma nuvem translúcida que Lúcia havia observado no ano anterior. Desta vez, a nuvem moveu-se na direção deles e tornou-se distinguível como um “jovem transparente”, aparentando cerca de 14 anos. O jovem apresentou-se, dizendo: “Não tenham medo. Eu sou o Anjo da Paz. Rezem comigo.” Ele então ajoelhou-se sobre o chão, curvando-se para a frente até que sua testa tocasse o solo, e orou: “Meu Deus: eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.” Ele orou assim três vezes e levantou-se dizendo, antes de desaparecer: “Orem assim. Os Corações de Jesus e de Maria estão atentos à voz das suas súplicas.” As crianças permaneceram em êxtase repetindo essa oração por longo tempo, como o Anjo o fizera, de joelhos.

Temendo o ridículo e as censuras de seus pais e amigos, as crianças nada relataram. Algumas semanas mais tarde, no princípio do outono, em outubro de 1916, novamente na Loca do Cabeço, o Anjo tornou a aparecer pela terceira e última vez: “Logo que aí chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: ‘Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc.’ Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vimos o Anjo trazendo na mão esquerda um cálice; suspensa sobre ele uma hóstia, da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue.”

O Anjo instou-os a que orassem muito, oferecessem sacrifícios ao Altíssimo e acolhessem os sofrimentos que porventura o Senhor lhes enviasse, nestas palavras, conforme o diário de Lúcia: “Rezem! Rezem! Rezem muito! Os Corações de Jesus e de Maria têm sobre vocês desígnios de misericórdia. Ofereçam constantemente orações e sacrifícios ao Altíssimo! De tudo quanto puderem, ofereçam um sacrifício como reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores, atraindo assim sobre a sua pátria a paz. Acima de tudo, aceitem e suportem com submissão o sofrimento que o Senhor lhes enviar.” Deixando a hóstia e o cálice suspensos no ar, o Anjo prostrou-se em terra e repetiu três vezes esta oração: “Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; eu Vos adoro profundamente e Vos ofereço o preciosíssimo corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor, Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação aos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos merecimentos infinitos do Seu Santíssimo Coração e pela intercessão do Imaculado Coração de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.” Depois, levantando-se, tomou novamente nas mãos o cálice e a hóstia e deu esta a Lúcia. O conteúdo do cálice, deu-o a beber a Jacinta e Francisco, dizendo ao mesmo tempo: “Tomem o corpo e bebam o sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparem os seus crimes e consolem ao seu Deus.” Novamente prostrou-se em terra e repetiu com as crianças pelo menos três vezes a mesma oração. E desapareceu. Assim o Anjo ensinara aos pastorzinhos a Comunhão Reparadora.

Visões anteriores

E precedendo o Anjo, ainda houvera três visões, de abril a outubro de 1915, nas quais Lúcia e outras pastorinhas, Maria Rosa Matias, Teresa Matias e Maria Justino, avistaram, também no Outeiro do Cabeço, suspensa no ar sobre o arvoredo do vale, “uma como que nuvem mais branca que a neve, algo transparente, com forma humana”. Era “uma figura como se fosse uma estátua de neve, que os raios do Sol tornavam algo transparente”.

Cabe aqui apontar para determinados detalhes que, fora do contexto dos desdobramentos posteriores, não adquiririam maiores significados, mas que assim considerados soam como elementos de ressonância, diga-se de passagem, verificados em muitos outros momentos históricos.

No outono de 1914, o papa Bento XV em vão conclamara os líderes europeus a estancarem o banho de sangue. “Não esqueças o dia feliz em que findará o nosso martírio. A guerra que nos fazem terminará.” Este pequeno anúncio saiu publicado discretamente na seção de classificados em meio a outros no jornal Diário de Notícias em 10 de março de 1917, sob o misterioso título: “1351917”. Não é difícil deduzir que se refere a 13 de maio de 1917. Quem o fez antecipando-se em dois meses e anunciando subliminarmente a data da primeira aparição propriamente considerada?

Em 5 de maio de 1917, apenas uma semana antes da primeira aparição e após uma série de tentativas semelhantes, o papa publicou um documento declarando que apenas a Santa Virgem poderia interceder para pôr fim à Primeira Guerra Mundial e pedindo que a invocação “Rainha da Paz, rogai por nós” fosse permanentemente incluída na litania mariana da Igreja: “A Maria, que é Mãe de Misericórdia e onipotente pela graça, elevemos de todos os cantos da terra nosso devoto apelo – dos mais ricos templos às menores capelas, dos palácios reais e das ricas mansões aos mais pobres abrigos – de todo lugar onde se abrigue uma alma piedosa – em terra ou no mar. Faça-se chegar a Ela o grito angustiado de mães e esposas, o soluço dos pequenos inocentes, a dor de todo coração generoso; tal que sua mais terna e benigna solicitude seja mobilizada e a paz pela qual suplicamos desça sobre o nosso mundo convulsionado.”

Primeira Aparição
Nossa Senhora de Fátima e os videntes

Quando da aparição de Nossa Senhora, Lúcia de Jesus, Francisco e Jacinta Marto (nascidos em 22 de março de 1907, 11 de junho de 1908 e 11 de março de 1910) tinham apenas 10, 9 e 7 anos, respectivamente. Os três, que viviam em condições bastante simplórias, ainda não eram alfabetizados, mas por outro lado eram profundamente religiosos. O palco das aparições foi a Cova de Iria, pequena propriedade dos pais de Lúcia, a 2,5 km de Fátima, seguindo pela Estrada de Leiria, e a cerca de 100 quilômetros de Lisboa. Francisco apenas via Nossa Senhora, e não a ouvia. Jacinta via e ouvia. Somente Lúcia via, ouvia e conversava com a Virgem.

Um intenso clarão, feito relâmpago, cruzou o céu sem nuvens, chamando a atenção das crianças para a presença de Nossa Senhora no momento em que brincavam de construir uma casinha de pedras em redor de uma moita na Cova de Iria naquele domingo, 13 de maio de 1917. Receando que uma tempestade desabasse, apressaram-se a tanger os carneiros colina abaixo, quando um outro raio coruscou, instando-os a correr. Ao chegarem no sopé, Lúcia e Jacinta notaram uma figura de uma silhueta feminina, flutuando entre as folhas de um pequeno carvalho. Conforme Lúcia, “era uma Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do Sol mais ardente. Sua face, indescritivelmente bela, não era nem triste, nem alegre, mas séria, e trazia um ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar, estavam apoiadas no peito e voltadas para cima. Da mão direita pendia um rosário. As vestes pareciam feitas de luz. A túnica era de cor branca, assim como o manto orlada de ouro, cobrindo-lhe a cabeça e descendo-lhe aos pés. Não se viam os cabelos e as orelhas.” Os traços da fisionomia nunca pôde descrevê-los com exatidão, pois lhe foi impossível fitar o rosto celestial, que ofuscava.
Fátima: Multidão assiste o Milagre do Sol / 1917-10-13

As crianças, de tão próximas a Nossa Senhora – a cerca de 1,50 metros de distância –, ficavam dentro da luz que ela espargia. Lúcia perguntou: “De onde vem a Senhora?”, ao que Ela respondeu: “Minha cidade é o Céu.” E continuou dizendo à Lúcia: “Não tenhais medo. Eu não vos faço mal. Sou do Céu – e Nossa Senhora ergueu a mão para apontar o céu. Vim aqui para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez. […] Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores? Ides, pois tereis muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.”

“Foi ao pronunciar estas últimas palavras”, complementou Lúcia, “que abriu pela primeira vez as mãos comunicando-nos uma luz intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que o melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetimos intimamente: ‘Ó Santíssima Trindade’, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento’. Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou: ‘Rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra’. Em seguida começou a elevar-se serenamente, subindo em direção ao nascente, até desaparecer na intensidade da distância. A luz que a circundava ia como que abrindo um caminho no cerrado dos astros.”

Firmando um pacto de silêncio, as crianças resolveram que não convinha contar a ninguém da cidade a respeito da visão, mas Jacinta não se conteve e, naquela mesma noite, colocou os pais a par do ocorrido, afirmando prematuramente que se tratava da Virgem Maria, quando na verdade a figura ainda não havia revelado sua identidade nem sua missão a Lúcia, o que prometera fazer somente ao final de seis meses. Em princípio sua mãe permaneceu céptica, mas a resposta do pai, após haver ouvido o relato dos dois pequenos sobre os eventos ocorridos na cova, foi sucinta: “Bem, se os pequenos viram uma Senhora vestida de branco… quem poderia ser, senão Nossa Senhora?” Na manhã seguinte, ao encontrar-se com Maria, uma de suas irmãs, Lúcia foi surpreendida com as seguintes palavras: “Oh Lúcia, ouvi dizer que você viu Nossa Senhora na Cova da Iria! É verdade?” Lúcia perguntou de volta: “Quem lhe contou?!” Nem Maria nem ninguém na família de Lúcia acreditou na sua história. Particularmente, Maria Rosa, a mãe de Lúcia, foi muito dura com ela, supondo que ela mentia ou inventara tudo.
Fátima: O Milagre do Sol / 1917-10-13

Com a inconfidência de Jacinta, boatos espalharam-se pela cidade em poucas horas. O vigário de Fátima entrevistou Lúcia e, receoso, aconselhou sua mãe a permitir que ela voltasse à cova somente dentro de um mês, e que a proibisse de ir pela segunda vez caso a figura reaparecesse. As crianças tornaram-se logo o centro das atenções e dos escárnios da maioria, com exceção de uns poucos que acreditaram nelas e reverenciavam-nas como santas.

Segunda aparição
Jacinta, Francisco e Lúcia – Maio de 1917

A data da segunda aparição, 13 de junho, coincidiu com o dia da Festa de Santo Antônio, o patrono da cidade, motivo pelo qual quase todos os moradores estavam com as atenções voltadas para essa celebração. As crianças, por sua vez, desprezaram a festa e, por volta do meio-dia, foram novamente à cova, iniciando a vigília orando diante do carvalho onde a visão surgira pela primeira vez. Logo notaram novamente um clarão, que chamavam de relâmpago, mas que não o era propriamente, e sim o reflexo de uma luz que se aproximava. Não mais do que cinquenta espectadores testemunharam o obscurecimento da luz do Sol nos minutos que antecederam o colóquio. O topo da azinheira, coberto de brotos, curvou-se como que sob um peso, momentos antes de Lúcia falar. Durante o colóquio de Nossa Senhora com as crianças, ouvia-se um sussurro semelhante ao zumbido de abelhas. A Virgem vaticinara a Lúcia que Jacinta e Francisco iriam morrer em breve, enquanto ela ficaria para cumprir os desígnios divinos. No final, a Senhora, envolta na luz que irradiava, elevou-se suavemente da arvorezinha, até desaparecer a leste. Pessoas mais próximas da visão notaram que os brotos da azinheira tombaram na mesma direção, como se as vestes da Senhora os tivessem arrastado.

O reverendíssimo V. da Cruz, sacerdote espanhol que realizou um estudo sobre Fátima, relatou assim os fenômenos verificados nesse dia:

“Além das três crianças, nenhum dos presentes avistou a misteriosa Senhora. Entretanto, vários fatos maravilhosos confirmaram sua impressão de que algo extraordinário estava acontecendo. O dia amanhecera claro e quente como é comum em Portugal no mês de junho. Mas pelo tempo que durou a aparição, o Sol desmaiou sem causa aparente. Os galhos do alto da árvore se desdobraram em forma de um guarda-chuva e assim permaneceram, como se um peso invisível houvesse pousado sobre eles. As pessoas que se achavam nas proximidades do carvalho ouviram distintamente as palavras de Lúcia e também perceberam, qual sussurro indistinto ou zumbido de abelha, o som da voz da Senhora alternando-se com a de Lúcia. Ao final da aparição, ouviu-se perto da árvore um barulho que as testemunharam compararam à explosão de um foguete, e Lúcia gritou: ‘Olhem, ela está desaparecendo!’ Nisso, os presentes viram subir da árvore uma bela nuvem branca que puderam seguir com os olhos por algum tempo, enquanto ela se movia na direção leste. Após a partida da Senhora, os galhos da árvore, sem perder a forma encurvada de guarda-chuva, penderam na mesma direção, como se o vestido da Senhora se arrastasse sobre eles. E a dupla pressão que primeiro encurvara os galhos na forma de guarda-chuva e em seguida os inclinara para leste era tão forte que eles permaneceram assim por largo tempo, só reassumindo a posição normal aos poucos.”

Terceira aparição

Ao ensejo da terceira aparição, entre quatro mil e cinco mil pessoas compareceram ao lugarejo, a essa altura já o mais famoso e comentado de Portugal. Lúcia hesitou um pouco em comparecer, uma vez que o padre sugeriu-lhe que talvez o demônio fosse responsável pela aparição. Naquele 13 de julho, uma “nuvenzinha acinzentada”, ou, conforme outros, um “globo de luz branca”, pairou sobre a azinheira, o Sol foi ofuscado e uma aragem fresca soprou sobre a serra, apesar de ser pleno verão. Marto, pai de Jacinta e Francisco, ouviu um sussurro como o de “moscas em um cântaro vazio”. Depois de exortar o sacrifício pelos pecadores, Nossa Senhora abriu as mãos, produzindo a visão do inferno, narrada por Lúcia:

“Quando a Senhora disse ‘Sacrifiquem-se pelos pecadores’, abriu de novo as mãos. O reflexo que elas expediam parecia penetrar na terra e vimos como que um mar de fogo; e mergulhados nesse fogo os demônios e almas, como se fossem brasas transparentes e pretas ou bronzeadas, com formas humanas, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante à queda de faíscas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e nos faziam estremecer de pavor – deve ter sido à vista disso que dei um ‘ai!’ que dizem ter ouvido. Os diabos distinguiam-se pelas suas formas horríveis e nojentas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros tições em brasa. Esta visão durou só um instante; caso contrário, estaríamos mortos de terror. Assustados e como que pedindo auxílio, levantamos a vista a Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza: ‘Viram o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para salvá-las, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu digo, salvar-se-ão muitas almas e terão Paz.”

A seguir, previu o fim da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda, bem como pediu a consagração da Rússia:

“A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e da perseguição à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz…”

Foi nessa ocasião que Lúcia pediu à figura que operasse um milagre a fim de convencer a todos, no que concordou prontamente, estabelecendo a data de 13 de outubro e voltando a prometer revelar então a sua identidade. Finda as mensagens proféticas, “como de costume, começou a elevar-se em direção ao nascente, até desaparecer na imensa distância do firmamento”. Ouviu-se então um som de trovão indicando que a aparição cessara.

O governo anticlerical de Lisboa, temendo que a crescente repercussão provocasse uma onda de renovado sentimento religioso que abalaria a República recém instalada, incumbiu Arthur de Oliveira Santos, vice-prefeito de Ourém, que tinha jurisdição política sobre Fátima, de investigar e desacreditar os visionários. No dia 11 de agosto, Santos viajou para lá e interrogou as crianças, forçando-as, inutilmente, a admitirem a farsa. Furioso com a recusa de Lúcia em revelar-lhes os segredos que a Virgem lhe transmitira, sequestrou as crianças dois dias depois, data do que seria a quarta aparição, levando-as a Ourém. Ali, foram acusadas de conspiração contra o Estado e ameaçadas de execução e torturas, e por fim jogadas na prisão. Em vão tentaram arrancar-lhes uma retratação ou os segredos que lhes haviam sido confiados.

Quarta aparição

A despeito dessa tortura psicológica, as crianças permaneceram firmes em suas posições. Frustrado e constrangido, Santos as mandou de volta a Fátima, mas não a tempo de estarem presentes na Cova de Iria. Na hora costumeira, porém, ouviu-se uma surda detonação enquanto um raio cruzava o céu no exato momento em que a figura deveria aparecer. O Sol arrefeceu seu brilho e luzes caleidoscópicas coloriram o rosto das pessoas, as roupas, as árvores e o chão. Uma pequena nuvem branca pairou sobre a azinheira, deteve-se por um instante, ergueu-se e partiu rapidamente para longe.

Um tanto abatidas por deixarem de presenciar a quarta aparição, as crianças iriam ser surpreendidas por volta das 16 horas de 19 de agosto. Francisco, Lúcia e um primo desta vigiavam seus carneiros na propriedade de um de seus tios, nas vizinhanças da cidade de Valinhos, quando notaram as mesmas alterações atmosféricas das vezes anteriores: um súbito decaimento da temperatura e um desmaiar do Sol. Lúcia mandou chamar às pressas Jacinta, a qual chegou a tempo de ver a Virgem que surgira sobre uma azinheira um pouco maior que a da Cova da Iria. As crianças cortaram ramos dessa árvore e os levaram para casa. Os ramos exalaram um perfume singularmente suave.

Quinta aparição

A detenção dos visionários só prejudicou o próprio governo, já que gerou um efeito inverso, atraindo ainda mais curiosos ao local. Na quinta aparição, o número de circunstantes foi calculado entre quinze mil e vinte mil – alguns chegaram a falar em trinta mil. Ao meio-dia, essa multidão presenciou o empalidecer do Sol, que ficou opaco e escureceu a ponto das estrelas ficarem visíveis, o súbito refrescar do clima, e uma espécie de chuva de pétalas irisadas ou flocos de neve – popularmente chamados de “Cabelos de Anjo” ou “Fios da Virgem” – que se desvaneciam antes de tocarem o solo. Essa “chuva de pétalas” chegou a ser fotografada por um funcionário do governo, Antônio Rebelo Martins, que publicou os instantâneos num livrinho intitulado Fátima, Esperança do Mundo, pouco depois da guerra. Curiosamente, essa chuva milagrosa repetiu-se na Cova em 13 de maio de 1924, aniversário da primeira manifestação da figura.

Tão espantoso quanto era um globo de luz branca que se movia lenta e majestosamente pelo céu, do nascente para o poente, e no final em sentido contrário. Uma das testemunhas era o monsenhor John Quareman, vice-geral de Leiria, que compareceu incógnito ao encontro na companhia de um colega padre. “Para minha surpresa”, confessou ele, “avistei clara e distintamente um globo de luz avançando de leste para oeste, equilibrando-se lenta e majestosamente nos ares”. E acrescentou: “Meu amigo olhou também e teve a boa sorte de perceber a mesma visão inesperada. Súbito, o globo e a luz maravilhosa desapareceram.”

A cada aparição a multidão aumentava e os fenômenos se tornavam mais espetaculares, provocando uma comoção social, política e religiosa em Portugal. Os políticos de Ourém e de Lisboa, prognosticando o fracasso do milagre prometido e o consequente arrefecimento da fé, planejavam desfechar uma violenta campanha anticlerical por todo o país.

Sexta aparição: O Milagre do Sol

Ansiosamente aguardado, o dia 13 de outubro, data da sexta e última aparição, que deveria culminar com o chamado “Milagre do Sol”, começou com chuva. Os peregrinos, vindos de todas as partes de Portugal e de outros países, estavam ensopados. Várias autoridades eclesiásticas de Lisboa e Ourém compareceram, bem como funcionários do governo e jornalistas. Tropas foram para lá deslocadas a fim de evitar e conter turbulências.

No horário habitual, por volta do meio-dia, as crianças chegaram à cova. Ajoelhando-se como sempre diante da azinheira, o trio se pôs a orar. Ainda chovia, mas Lúcia ordenou que os espectadores fechassem os guarda-chuvas e se juntassem às preces, no que foi imediatamente atendida. Pouco depois, as crianças anunciaram que a aparição vinha chegando e a chuva transformou-se em fina garoa. Como das vezes anteriores, surgiu uma luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a azinheira, que se identificou como a Senhora do rosário: “Eu sou a Senhora do rosário. Quero que se construa aqui uma capela em minha honra e que continuem a rezar o terço todos os dias. É necessário que os pecadores se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.” E com um ar muito triste, continuou: “Não ofendam mais Nosso Senhor, que já está muito ofendido.”

À medida que se elevava, o reflexo da sua própria luz projetava-se no Sol – isso na visão de Lúcia, já que as nuvens toldavam o céu desde manhã, e o astro ainda não surgira. Nesse momento, Lúcia exclamou: “Olhem para o Sol!” Não se via mais Nossa Senhora. Aos olhos das crianças, desenrolava-se um “filme”: três quadros mostrados sucessivamente, simbolizando os mistérios gozosos do rosário, os dolorosos e por fim os gloriosos. Apenas Lúcia viu os três quadros; Francisco e Jacinta viram o primeiro. Lúcia relata: “Desaparecida Nossa Senhora na imensidão do firmamento, vimos, ao lado do Sol, São José com o Menino e Nossa Senhora, vestida de branco com um manto azul. São José, com o Menino, parecia abençoar o mundo, fazendo com a mão gestos em forma de cruz. Pouco depois, passada essa aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora, a qual me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo, do mesmo modo que São José. Dissipou-se essa aparição e parecia-me ver ainda Nossa Senhora em forma semelhante à Nossa Senhora do Carmo”. Nossa Senhora das Dores e Jesus apareceram acabrunhados de dor a caminho do Calvário. Lúcia via apenas a parte superior do corpo de Cristo.

Enquanto as crianças assistiam essas cenas, a massa calculada entre setenta mil e oitenta mil pessoas testemunhava o prometido Milagre do Sol. Chovera aos cântaros naquele dia e ainda chuviscava. Ao entardecer, no instante em que a Virgem se elevava e que Lúcia gritava “Olhem para o Sol!”, as nuvens se entreabriram e descortinaram o Sol. Mas era um sol estranho, achatado, com um contorno bem definido, que mais parecia um imenso disco de prata. Brilhava com intensidade jamais vista, mas não ofuscava nem cegava. O disco começou a “bailar”, e qual gigantesca roda de fogo, a girar rapidamente. Imobilizou-se por alguns instantes para recomeçar a girar vertiginosamente sobre si mesmo. Suas bordas tornaram-se escarlates e deslizou como um redemoinho, espargindo chamas de fogo. Jorrava cascatas de luzes verdes, vermelhas, azuis e violetas, de variadas tonalidades, que se refletiam no solo, nas árvores, nos arbustos, nas roupas e nas próprias faces das pessoas. Animado por um movimento louco, o globo de fogo tremulou e sacudiu antes de precipitar-se em ziguezague sobre a multidão que, apavorada, esboçou gestos de pânico. Era como se o fim do mundo houvesse chegado. O disco então parou por alguns minutos como se concedesse um intervalo de descanso, para logo em seguida recomeçar os movimentos e emitir luzes flamejantes. Após nova pausa, a dança recomeçou, tão gloriosa quanto antes. O Milagre do Sol durou um total de doze minutos, ao final dos quais muitos notaram que suas roupas, encharcadas pela chuva, haviam secado completamente, assim como o chão. O ciclo das aparições terminava.

O jornal de maior circulação em Portugal à época, O Século, que por muito tempo cultivou uma linha editorial abertamente anti-religiosa, enviou ao local seu redator-chefe, o jornalista Avelino de Almeida. Ele, que havia se mostrado muito avesso a toda a história de Fátima e à predição do milagre num artigo que escrevera nessa mesma manhã de 13 de outubro, com aguda ironia descreve pormenorizadamente a paisagem humana que rodeava a azinheira, não se deixando afetar pela comoção da massa. Na sua matéria de primeira página publicada logo na segunda-feira seguinte, 15 de outubro, retrata os doentes que esperavam por uma cura, os vendedores ambulantes que já naquelas dias vislumbravam o lucro proporcionado pelas aparições, os livre pensadores conversos, os camponeses cépticos, o desborde piedoso e idolátrico de milhares de crentes e também a espessa chuva que caía sobre Fátima, tornando o cenário das aparições um intransitável lameiro.
Como testemunha ocular, o jornalista limita-se a fazer uma descrição fiel do que vira, e nessa mesma postura continua quando Lúcia pede à multidão que fechem os seus guarda-chuvas para orar. É nesse momento que começa acontecer o “Milagre do Sol”:

“E assiste-se então a um espetáculo único e inacreditável para quem não foi testemunha deste acontecimento. Do alto da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem ignorou entrar pelas terras barrentas, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o Sol, que se mostra liberto de nuvens, no zênite. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Diria estar-se realizando um eclipse. Mas naquele momento um grande grito elevou-se de todo lado: ‘Milagre! Milagre!’ Ante os olhos atônitos da multidão, cujo aspecto era bíblico, ao se apresentarem com a cabeça descoberta, perscrutando agudamente o céu, o Sol vibrou e realizou movimentos súbitos totalmente fora das leis cósmicas – o Sol ‘bailou’, segundo a típica expressão dos camponeses”.

Então o “Sol” começa a “dança” e o jornalista a descreve com estas palavras: “Nunca foi visto o Sol com  movimentos tão bruscos fora de todas as leis cósmicas.” Sem mudar o tom impassível do seu relato, Almeida prossegue descrevendo as pessoas e suas emoções. Finalmente, conclama os cientistas a explicarem a natureza do fenômeno observado.

Apesar de seu breve comentário e das suas desapaixonadas descrições, Avelino de Almeida foi duramente criticado pelos ateus e setores intelectualizados que sugeriram que o jornalista apologizava em prol do principal beneficiário das aparições: a Igreja.

Uma das principais publicações anticlericais, O Dia, um grande jornal lisboeta, reportou o seguinte na edição de 17 de outubro:

“A uma da tarde – meio-dia pelo Sol – a chuva cessou. O céu, de um cinza-pérola, iluminou a vasta área campestre com uma luz estranha. O Sol estava velado como que por um filtro transparente, de modo que se podiam facilmente fixar os olhos nele. O cinza madrepérola tornou-se prateado, à medida que as nuvens se separavam revelando um sol de prata que, envolto na mesma luz, girava no círculo de nuvens. Um grito elevou-se de todas as bocas, e o povo caiu de joelhos sobre o solo lamacento. A luz tornou-se de um lindo azul, como que vinda através dos vitrais duma bela catedral, e derramou-se sobre o povo ajoelhado, de mãos estendidas. Lentamente, o azul apagou-se, e a luz parecia vir através de um vitral amarelo. Manchas amarelas pintaram os lenços brancos contra os vestidos escuros das senhoras. Elas estavam sobre as árvores, as pedras, as montanhas. O povo chorava e orava, as cabeças descobertas diante do milagre pelo qual ansiavam.”

Uma versão resumida dos eventos ocorridos em Fátima foi publicada em vários jornais mundo afora, a despeito de astrônomos haverem testificado que nada incomum ocorrera no céu naquele dia.

Tendo presenciado os acontecimentos na juventude, José Almeida Garret, professor de ciências naturais da Faculdade de Ciências de Coimbra, forneceu uma descrição sucinta e isenta. Decidido a observar detidamente os fenômenos, posicionou-se, munido de binóculos, na parte alta do terreno. Garrett não escutou a ordem de Lúcia de observar o Sol, mas voltou a vista ante a atitude da multidão que exclamava enquanto observava o céu. “Não era algo esférico como a Lua”, pontificou, “nem tinha a mesma cor nem os mesmos claros-escuros. Semelhava ser de matéria polida.” Segundo ele, não havia bruma nem nuvens e o tempo se manteve assim durante dez minutos, salvo em duas ocasiões em que uns raios fulgurantes obrigaram as testemunhas a proteger a vista. Enquanto observavam o Sol, a cor da luz que iluminava a explanada tornou-se violeta. Mais tarde a cor mudaria para o amarelo. Pouco depois, o Sol começou a girar sobre si mesmo e, num momento, ante o espanto dos presentes, o “Sol desprendeu-se da abóbada celeste” e se abalançou sobre os atônitos espectadores. Repassemos seu relato na íntegra:

“Eu estava postado a mais ou menos 100 metros de distância. A chuva caía sobre nós e encharcava as nossas roupas. Eram 14 horas – tempo oficial, na verdade correspondente ao meio-dia pelo tempo solar. Momentos antes, um Sol radiante fendera as pesadas massas de nuvens que o velavam. Todos os olhares, como que magnetizados, voltaram-se para o céu. Eu mesmo tentei fixá-lo e pareceu-me um disco de contornos bem-definidos, luminoso mas não ofuscante. Pessoas à minha volta comparavam-no a um prato de prata fosca, o que não me pareceu exato: sua aparência era a de uma luminosidade aguda e mutável, como o ‘oriente’ de uma pérola. Não lembrava de forma alguma a Lua em noite clara. Não tinha seus matizes, nem suas sombras. Podia antes ser comparado a uma esfera polida talhada nas valvas argênteas de uma concha. Isso não é poesia, vi-o assim com os meus próprios olhos. Também não se podia confundi-lo com o Sol visto através da neblina. Não havia sinais de neblina e, além disso, o disco solar não estava toldado nem velado de forma alguma, mas brilhava visivelmente no centro e nas bordas. Aquele disco brilhante parecia dotado de um movimento imprevisível. Não se tratava do pulsar das estrelas: ele girava sobre seu próprio eixo com estonteante rapidez. Súbito, um grande grito, como que de angústia, ecoou naquela vasta multidão. O Sol, embora conservasse o ritmo de sua rotação, destacou-se do firmamento e, rubro, fendeu a terra, ameaçando esmagar-nos sob o peso considerável de sua massa incandescente. Houve momentos de pavorosa tensão. Os fenômenos que descrevi foram por mim testemunhados. Estava calmo e controlado, sem o menor indício de agitação mental.”

Numerosos moradores de distritos vizinhos e aldeias distantes, como o poeta Afonso Lopes Vieira (1878-1946), que estava em São Pedro de Moel, pertencente à cidade e freguesia de Marinha Grande, a 40 quilômetros em direção oeste, também puderam presenciar o fenômeno. Muitos gritavam: “Ó, meu Deus, tem piedade de mim. Não me deixes morrer nos meus pecados! Virgem Maria, protegei-me, é o fim do mundo!” Muitos milagres de curas verificaram-se nessa ocasião.

O padre Inácio Lourenço Pereira, com 9 anos à época, estudava numa escola que se erguia numa colina a 13 quilômetros de distância. Em 1931, declarou que eram 14 horas quando ouviram gritos e exclamações vindos do lado de fora:

“O professor saiu correndo e as crianças o seguiram. Na praça, as pessoas choravam e gritavam, apontando para o Sol e sem dar a menor atenção às perguntas do mestre… Tratava-se de um grande prodígio solar com seus maravilhosos fenômenos e que podia ser contemplado, distintamente, até mesmo da colina onde se espraiava a nossa aldeia. Nem sei como descrever o milagre tal como no momento o presenciei. Olhei fixamente para o Sol, que parecia pálido e desmaiado. Lembrava uma bola de neve a girar… De súbito, como que se desprendeu do céu, balançou para a direita e para a esquerda, qual se fosse cair sobre a terra. Aterrado, absolutamente aterrado, corri para a multidão. Todos choravam, esperando que o mundo acabasse a qualquer momento. Pelos longos minutos que durou o fenômeno solar, os objetos que nos cercavam refletiam todas as cores do arco-íris. Olhando uns para os outros, este parecia azul, aquele amarelo, um terceiro vermelho, e por aí além. Esses estranhos fenômenos só faziam aumentar o terror do povo. Depois de uns dez minutos o Sol subiu de novo como descera, ainda pálido, ainda desmaiado. Quando o povo se deu conta de que o perigo passara, houve uma explosão de alegria.”

Logicamente não fora o Sol que dançou naquele 13 de outubro. O diretor do Observatório Astronômico de Lisboa declarou aos jornalistas de O Século que “se tivesse sido um fenômeno cósmico, os observatórios astronômicos certamente o detectariam. Mas é precisamente isso o que falta, o registro inevitável de alguma perturbação no sistema… por pequena que esta fosse.”

O bispo de Leiria também não parece muito convencido de que o Sol se mexera no dia do “milagre”: “Este fenômeno” – escreveu Correia da Silva na sua carta pastoral de 13 de outubro de 1930 – “que não foi registrado por nenhum observatório astronômico e que consequentemente não pode ter sido um fenômeno natural, foi observado por pessoas de todas as condições…”

O parapsicólogo norte-americano D. Scott Rogo (1950-1990), que foi membro visitante da Universidade para Estudos Humanísticos de San Diego e conferencista sobre Parapsicologia na Universidade John F. Kennedy de Orinda, Califórnia, autor de várias obras de referência obrigatória, em seu livro Milagres: Uma Exploração Científica dos Fenômenos Paranormais, avaliou que “considerando-se o grande número de testemunhas, o formidável milagre de 13 de outubro não pode ser explicado como alucinação de massa ou produto de histeria. Foi uma ocorrência genuinamente paranormal.” Acontecimentos classificados como paranormais são aqueles que não podem ser explicados de forma natural por contrariarem todas as leis físicas e pelo seu caráter indubitavelmente extraordinário.

A possibilidade de ter sido o Sol é completamente descartada por Gustavo Medina Tanco, astrônomo do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG-USP), a quem entrevistei: “O movimento do Sol na forma descrita é realmente impossível desde um ponto de vista físico e, caso tivesse acontecido, seus efeitos seriam facilmente observáveis e provavelmente até catastróficos para a Terra”, salienta.

José Carlos Marcondes também defende que não se tratou de um fenômeno astronômico, “pois se assim fosse teria sido facilmente registrado pelos cientistas e estudiosos do assunto, o que não ocorreu”. O pesquisador considera que “pela abundância de testemunhos, juramentados alguns, publicados pela imprensa da época outros, ou colhidos em missivas de testemunhas oculares tantos outros, é forçoso reconhecer que o fenômeno do sol foi indiscutível, as explicações é que foram e continuam insatisfatórias, dada a impossibilidade de classificá-lo nos nossos padrões usuais de conhecimento. Parece não caber nem como fenômeno meteorológico, nem como fenômeno astronômico, nem tampouco como fenômeno psicológico, o que não significa que o fato extraordinário não teve ocorrência”.

Após quase treze anos de investigações por uma comissão de clérigos, cientistas e físicos, em 13 de outubro de 1930 a Igreja Católica qualificou como dignas de crédito as aparições de Fátima, segundo a seguinte declaração do bispo de Leiria: “Parece-nos bem: 1) declarar dignas de crédito as visões dos pastorinhos na Cova da Iria, na paróquia de Fátima desta Diocese, no 13º dia dos meses de maio a outubro de 1917; 2) conceder permissão oficial para o culto de Nossa Senhora de Fátima.”

Salazar

Ora, esse reconhecimento ocorreu não mais durante o período repleto de distúrbios, levantes e frequentes mudanças de governo, marcada pela repressão religiosa, em que fracassaram todas as tentativas de estabelecer uma orientação governamental satisfatória para os democratas, e sim quatro anos depois da irrupção do golpe militar que colocou no poder o general António Óscar de Fragoso Carmona (1869-1951) – que fora eleito presidente em 1928 e nomeara Salazar para o Ministério das Finanças – e dois anos antes do golpe perpetrado por Salazar.

Como primeiro-ministro em 1932, seguindo a tendência totalitária da Itália e da Alemanha, Salazar pôs fim à forma liberal-democrática de governo e no ano seguinte proclamou uma nova Constituição, estabelecendo o sistema de acordo com linhas fascistas a que chamou Estado Novo Corporativo – no Brasil, Getúlio Vargas faria o mesmo implantando em 1937 a ditadura do Estado Novo – e fazendo uso de sua autoridade para realizar reformas sociais e econômicas. Salazar reatou os laços com a Igreja Católica Romana e em troca foi fortemente apoiado por ela, tornando-se um dos ditadores que mais tempo permaneceria no poder, de onde só sairia em 1968 para dar lugar ao jurista Marcelo José das Neves Alves Caetano (1906-1980), que continuou a sua política autocrática até o golpe militar de 1974. Foi com esse ditador que se iniciou a tradição dos regimes fascistas negociarem com a Igreja Católica um compromisso recíproco de não agressão. A Salazar se seguiu Mussolini, e depois, Hitler.

Historiadores marxistas e grupos anticatólicos e esquerdistas em geral, desde os tempos das aparições vêm renitindo na alegação de que o culto a Virgem de Fátima teria sido fomentado como parte vital da estratégia de reorganizar os setores conservadores hostis à República, expandindo-se numa forma de popularização da peculiar síntese de fascismo e catolicismo. Em outras palavras, Fátima teria nascido tentando ser algo como a Marcha sobre Roma de Mussolini, e evoluído como o equivalente dos comícios em Nuremberg da Alemanha Nazista.

Não há dúvidas de que o governo salazarista valeu-se do fenômeno em Fátima como arma de propaganda ideológica contra o socialismo – condenado veementemente pela Virgem – e justificativa moral contra os críticos e opositores. Com a consolidação do Estado Novo nos anos 30, o fenômeno em Fátima foi enriquecido com símbolos nacionalistas como o “Anjo de Portugal”, transformado de anti-republicano em anticomunista com a introdução a posteriori de profecias condenando a Revolução Bolchevique e alertando quanto ao deflagrar da Segunda Guerra Mundial. Fátima teria servido indiretamente ao Estado Novo sobretudo porque fez de Portugal um fenômeno único no mundo. Contudo, a equiparação de Fátima ao fascismo e o nazismo soa tão forçado, esdrúxulo e desproporcional, que só podemos atribuir isso a uma típica e recorrente manobra esquerdista para encobrir seus próprios crimes e acusar o adversário daquilo que ela mesma pratica com rara maestria e exclusivo refinamento.

Salazar não explorou Fátima pessoalmente a seu favor, nem tampouco fez dela um instrumento pedagógico para “instruir” as massas e mantê-las lenientes. Os que vasculharam os arquivos do ditador – o que foi o caso da historiadora Rita Almeida Carvalho –, jamais encontraram uma única referência a Fátima. Salazar “só raramente se deixava fotografar em Fátima”, afirmou o jornalista e escritor Manuel Maria Múrias (1928-2000), citado por Rita Carvalho. Por outro lado, várias figuras de proa do regime participavam e intervinham diretamente nas cerimônias evocativas das aparições. O Diário da Manhã, jornal oficioso do regime, não deixa dúvidas quanto ao aproveitamento político que o Estado Novo procurou fazer de Fátima em momentos-chave da vida política. Em maio de 1958, por exemplo, já depois de Humberto da Silva Delgado (1906-1965) ter pronunciado a frase assassina contra Salazar – “Obviamente, demito-o” –, o ministro da Defesa esteve em Fátima acompanhado do militar Américo de Deus Rodrigues Tomás (1894-1987), o candidato de Salazar à chefia do Estado.

A vidente Lúcia, numa carta dirigida em 1945 ao então cardeal-patriarca de Lisboa Dom Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977) a partir do convento onde permaneceu enclausurada desde as aparições, escreveu que “Salazar é a pessoa por Ele (Deus) escolhida para continuar a governar a nossa Pátria… a ele é que será concedida a luz e graça para conduzir o nosso povo pelos caminhos da paz e da prosperidade.” Foi numa hora de muitas “preocupações, desgostos e talvez dúvidas” para o presidente do Conselho, Salazar, que, em 13 de novembro daquele ano Cerejeira enviou ao seu amigo e antigo condiscípulo um cartão tranquilizador em que se referia a uma carta da Irmã Lúcia que recebera e onde a vidente fazia referências ao que entendia ser a missão divina de Salazar. O documento foi lido no primeiro semestre de 1999 pelo pesquisador José Barreto, do Instituto de Ciências Sociais, no curso de História Contemporânea organizado pela Fundação Mário Soares, sobre “Portugal e a transição para a democracia, 1974-76”. O seu conteúdo já tinha sido divulgado antes, mas permanecera até então pouco conhecido.

A carta foi enviada a Salazar a “poucos dias das primeiras eleições de deputados à Assembleia Nacional a que a oposição pôde concorrer – organizada no Movimento de Unidade Democrática –, ainda que com enormes limitações práticas”. Essas eleições, referiu ainda José Barreto, foram aquelas que Salazar, com uma frase que se tornou célebre, considerou ser “tão livres como na livre Inglaterra”. E se Salazar tinha sido escolhido por Deus, era preciso, diz Lúcia na carta citada por Cerejeira, “fazer compreender ao povo que as privações e sofrimentos dos últimos anos – aludindo aos anos da Segunda Guerra – não foram efeito de falta alguma de Salazar, mas sim provas que Deus nos enviou pelos nossos pecados”. Aliás, “ao prometer a graça da paz” à nação, Deus já anunciara “vários sofrimentos, pela razão de que nós éramos também culpados”. E, bem vistas as coisas, olhando “para as tribulações e angústias dos outros povos”, bem pouco pedira Deus aos portugueses. Ironicamente, Lúcia não terminava os seus recados desta carta escrita em 7 de novembro de 1945, em Tui, cidade na Galícia, Espanha, sem uma nota que, a outras pessoas, poderia valer a prisão política: “Depois, é preciso dizer a Salazar que os víveres necessários ao sustento do povo não devem continuar a apodrecer nos celeiros, mas serem-lhe distribuídos.” A carta, que se encontra no Arquivo Salazar, na Torre do Tombo, revela, segundo Barreto, “a relação entre a produção profética de Fátima e a sacralização do regime”.

A relação entre Fátima e a predestinação de Salazar já tinha sido estabelecida três anos antes, num documento que Barreto considera fundamental para entender essa dinâmica político-religiosa. Numa carta pastoral coletiva do episcopado português, de 1942, sobre as bodas de prata das aparições de Fátima, os bispos referiam-se às diferenças entre os tempos da Primeira República – dominados pelo anticlericalismo quase sistemático – e do Estado Novo em termos que não deixavam margem para dúvidas. O martelo demolidor, as ruínas e a desolação são características implicitamente apontadas à Primeira República, contrariamente à ordem nova, ao desenvolvimento tornado ressurreição.

Nos estertores da guerra, em 26 de maio de 1945, Cerejeira felicitava de novo Salazar, em carta dirigida ao ditador, por ver “coroada a obra de defesa de Portugal”: “O fato de ser a nossa paz um favor do céu – predito pela irmã Lúcia – não te tira nem diminui o mérito, pelo contrário, faz de ti um eleito, quase um ungido de Deus.” E, a seguir, arremata o cardeal: “Foste tu o escolhido para realizar o milagre.” Em 1946, por sugestão de Salazar, os bispos organizaram uma cerimônia na Praça do Império para agradecer, na presença da imagem de Nossa Senhora de Fátima, o fato de Portugal não ter participado da Segunda Guerra. Um gesto muito valorizado pelas mais altas figuras do episcopado: além de Cerejeira, também Dom Manuel Trindade Salgueiro (1898-1965), um “fervoroso admirador” de Salazar, e Dom José da Costa Nunes (1880-1976), que viria a ser patriarca das Índias, e que também admirava o ditador. Talvez por causa desses apoios, as próprias alocuções do papa Pio XII sobre a guerra e os diversos documentos de atualização da doutrina social da Igreja produzidos por esse papa não foram, naquela altura, publicados em Portugal.

As mortes precoces de Francisco e Jacinta

Durante o curto espaço de tempo que viveram depois das aparições, Francisco e Jacinta, sobretudo esta última, tiveram cada qual diversas visões. Em fins de outubro de 1918, adoeceram quase ao mesmo tempo. Levada a Lisboa, Jacinta ficou em um orfanato contíguo à Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, sendo depois transferida ao Hospital Dona Estefânia. No orfanato, foi assistida pela diretora deste, a madre Maria de Purificação Godinho, que tomou nota – embora nem sempre literalmente – de suas últimas palavras. Uma de suas mensagens advertia quanto às guerras: “Nossa Senhora disse que no mundo haverá muitas guerras e discórdias. As guerras são castigos pelos pecados do mundo. Nossa Senhora já não pode reter o braço castigador do seu Filho sobre o mundo. É preciso fazer penitências. Se as pessoas se emendarem, Nosso Senhor ainda salvará o mundo; mas se não se corrigirem, virá o castigo.”

No hospital, Nossa Senhora anunciou a Jacinta o dia e a hora em que a levaria: 20 de fevereiro de 1920. Sepultaram Jacinta no Cemitério de Vila Nova de Ourém, e Francisco, que morrera no ano anterior, no Cemitério de Fátima. Ambos sucumbiram à influenza, vírus da Gripe Espanhola que em 1918 se espalhou e afetou metade da população mundial, matando cerca de quarenta milhões de pessoas (o dobro de vítimas da Primeira Guerra), pelo que é até hoje considerada a epidemia mais devastadora de todos os tempos. A taxa de mortalidade em Portugal foi das mais elevadas, tendo o número de mortos chegado a 120 mil. Em 12 de setembro de 1935, os restos mortais de Jacinta foram transladados e depositados em um jazigo especialmente construído para ela e seu irmão no Cemitério de Fátima. Na lápide, um epitáfio singelo: “Aqui repousam os restos mortais de Francisco e Jacinta, aos quais apareceu Nossa Senhora.” Em 1951 e 1952, respectivamente, os despojos foram levados para a cripta da Basílica de Fátima, onde se encontram.

Memórias de Irmã Lúcia

Em 17 de junho de 1921, Lúcia partiu de Aljustrel, sendo recebida como interna no Colégio das Irmãs Doroteias em Vilar, subúrbio da cidade do Porto. Em 24 de outubro de 1925, ingressou como postulante no Convento do Instituto de Santa Doroteia em Tui, na Espanha. Em 2 de outubro de 1926 tornou-se noviça. Em 3 de outubro de 1928 fez votos como Irmã conversa, e seis anos depois, no mesmo dia de outubro, os votos perpétuos, assumindo o nome de Irmã Maria das Dores.

Devido a Guerra Civil Espanhola (1936-39), foi transferida, por segurança, ao Colégio do Sardão, em Vila Nova de Gaia, município na área metropolitana do Porto, região Norte e sub-região do Grande Porto. Em 20 de maio de 1946, Lúcia reviu o local das aparições. Visitou a Cova de Iria, a Gruta do Cabeço e o Sítio dos Valinhos. Em 25 de março de 1948, deixou o Instituto de Santa Doroteia para ingressar no Carmelo de São José, em Coimbra, com o nome de Irmã Maria Lúcia do Coração Imaculado. Em 13 de maio do mesmo ano vestiu o hábito de Santa Teresa, e em 31 de maio de 1949 tornou-se uma Carmelita Descalça, vivendo desde então reclusa em um convento carmelita em Coimbra.

Os relatos redigidos por Lúcia, Memórias, dividem-se em quatro partes. A primeira, escrita em um caderno pautado comum, é um repositório de memórias pessoais dedicada à biografia de Jacinta. Em 12 de setembro de 1935, procedeu-se a exumação dos restos mortais da pequena vidente falecida em 1920. Verificou-se então que seu rosto se mantivera incorrupto. O bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva – um dos mais ativos promotores do reconhecimento das aparições em Fátima ao longo de 38 anos à frente da diocese até a sua morte em 13 de março de 1958, tanto que se tornara conhecido como “bispo de Fátima” – enviou à Lúcia uma fotografia que tirou nessa ocasião. Ela agradeceu referindo-se às virtudes da prima. Diante disso, o prelado ordenou que escrevesse tudo o que sabia da vida de Jacinta, daí resultando a primeira parte, concluída no Natal de 1935. Em abril de 1937, o padre Ayres da Fonseca ponderou ao bispo de Leiria que o primeiro relato de Lúcia o levara a supor que havia outros dados interessantes relativos às aparições e que no entanto permaneciam desconhecidos. Entre os dias 7 e 21 de novembro daquele ano, por ordem de Dom Correia da Silva, Lúcia pôs-se a escrever a história de sua vida. Nessa segunda parte, ela também menciona, ainda que sumariamente, as aparições de Nossa Senhora, e relata, pela primeira vez publicamente, as do Anjo.

A noção das crianças sobre os acontecimentos era extremamente subjetiva, como se depreende dos depoimentos de Lúcia. Respondendo ao proeminente historiador e escritor norte-americano William Thomas Walsh (1891-1949), autor do livro Our Lady of Fatima (1947), que a indagou se ao relatar as palavras do Anjo e de Nossa Senhora reproduzira exatamente o que ouvira, admitiu que “as palavras do Anjo tinham uma propriedade intensa e dominadora, uma realidade sobrenatural, de modo que não poderiam ser esquecidas. Elas se gravaram exata e indelevelmente na minha memória. As palavras de Nossa Senhora, no entanto, eram diferentes. Eu não asseguraria a exatidão delas. Foi antes o sentido que eu aprendi, sendo que apenas traduzi em palavras o que entendi. Não é fácil explicar isso.”

O padre jesuíta Édouard Dhanis defendia a tese de que o fenômeno de Fátima cobre duas realidades distintas: a mais antiga, ligada às alegadas “aparições” da “senhora vestida toda de branco” a três pastores da Cova da Iria entre maio e outubro de 1917; e uma Fátima posterior, inspirada nos relatos das Memórias de Lúcia. O seu colega alemão Karl Rahner (1904-1984), um dos mais influentes teólogos do século XX, presente no Concílio Vaticano II, sublinhava que a documentação existente revelava sérias contradições entre as duas Fátimas.

Diversas razões levaram Lúcia a manter silêncio por duas décadas: o conselho do arcipreste de Olival e vigário de Ourém, padre Faustino José Jacinto Ferreira (1853-1924), reforçado, mais tarde, por uma recomendação do bispo de Leiria. Em 1941, este ordenou à vidente que escrevesse tudo que se lembrasse a respeito da vida da prima, com vistas a uma nova edição do livro sobre Jacinta que o cônego José Galamba de Oliveira (1903-1984) pretendia mandar imprimir. Assim, Lúcia inicia a terceira parte do manuscrito e registra as impressões que as aparições causaram no espírito de Jacinta. O relato é datado de 31 de agosto de 1941. Surpreendido com as revelações, Galamba de Oliveira constata que Lúcia não contara tudo nos documentos anteriores, instando o bispo de Leiria a ordenar-lhe que escrevesse um histórico completo das aparições. “Mande-lhe, senhor bispo, […] que escreva tudo. Mas tudo. Que há de dar muitas voltas no Purgatório por ter calado tanta coisa.” Lúcia se desculpa dizendo ter sempre agido em consonância com as ordens da Igreja. Galamba insiste com o bispo para que ordene “que diga tudo, tudo; que não oculte nada” – nem mesmo o terceiro segredo. Pressionada, Lúcia redige o quarto manuscrito, datado de 8 de dezembro de 1941. Nele, Lúcia faz pela primeira vez um relato sistemático e ordenado das aparições, declarando por fim que, “advertidamente”, nada omitiu do quanto se lembrava, salvo a terceira parte do segredo, pois ainda não havia lhe sido permitido revelar.

Os Segredos de Fátima

Para muitos, a confirmação das duas partes do segredo justificaria o ocultamento do terceiro, pois certamente conteria revelações desconcertantes quanto ao futuro. Os segredos essenciais foram comunicados à Lúcia em 13 de julho de 1917. O primeiro deles referia-se à “visão do inferno”. O segundo antecipava o término da Primeira Guerra Mundial, mas advertia: se não fossem atendidos os pedidos da Santa, de cunhos ideológicos e pacifistas, voltados à reformulação de valores e conceitos, uma nova guerra, de proporções e consequências bem mais graves, iria ser deflagrada. “Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal”, vaticinou.

De fato, na noite de 25 para 26 de janeiro de 1938, uma intensa luminosidade – explicada pelos astrônomos como uma provável aurora boreal – foi vista em todo o céu da Europa entre 20h45 e 1h15, com breves intermitências. Nunca antes uma aurora boreal fora vista naquelas latitudes. Jornais do mundo inteiro noticiaram esse “fenômeno natural” sem precedentes. Observadores atônitos reportaram ocorrências de fogo em florestas e prédios, aparentemente associadas a essa estranha luz. Muitos historiadores concordam que a Segunda Guerra Mundial iniciou-se efetivamente em 1938, último ano do pontificado de Pio XI, com o anschluss (anexação) da Áustria pela Alemanha, seguida pela campanha dos Sudetos, região tcheca habitada por uma minoria alemã que, incitada pelos nazistas, exigia a sua incorporação ao Terceiro Reich.

Mais de dezenove milhões de pessoas pereceram na Primeira Guerra, nove milhões nos campos de batalha, a um custo total que segundo Ernest L. Bogart (1870-1958), professor de Economia da Universidade de Illinois, ultrapassou os US$ 338 bilhões. A paz foi firmada somente em 28 de junho de 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes pela Alemanha, que saía severamente humilhada e prejudicada, sendo obrigada a aceitar a divisão de seu território, a perda de todas as colônias e das duas margens do Reno, a redução de seu exército à insignificância e o pagamento de pesadas indenizações de guerra.

Àquela altura, nas palavras do historiador norte-americano Arthur S. Link (1920-1998), “a Alemanha parecia decisivamente derrotada e desarmada; a Rússia estava no caos. Nenhuma nuvem guerreira obscurecia o horizonte, nenhuma nação ameaçava a paz e a segurança […] Os homens podiam falar dos perigos do futuro, mas quem acreditaria neles, quando era evidente que jamais poderia haver outra guerra?” E quem, portanto, iria acreditar na previsão de uma humilde Virgem acerca de uma nova guerra, se esta parecia distante e irrealizável? E eis que Ela foi de uma precisão espantosa, e mais ainda se considerarmos que Ela fez tal previsão em meados de 1917, ou seja, dois anos antes do término da Primeira Guerra Mundial e mais de vinte anos antes do início da Segunda. Se bem que posteriormente muitos analistas, posando de “visionários”, iriam reivindicar para si a constatação, agora óbvia, de que uma segunda guerra mundial naquelas circunstâncias era mesmo inevitável, o fato é que, logo após o fim da Primeira e quase até às vésperas da Segunda, praticamente ninguém, nem mesmo expertos políticos e militares, apostava na eclosão de uma nova guerra de proporções comparáveis à Primeira, ainda que se deparassem com uma inepta Liga das Nações que não conseguia dirimir as disputas imperialistas e de uma Alemanha que, imersa em terríveis crises econômicas e sociais, cultivava acerbamente o nacionalismo e o sentimento revanchista.

Lúcia interpretou aquela luz extraordinária de 1938 como sendo “o grande sinal”. Convencida de que a Segunda Guerra iria ser deflagrada, redobrou os esforços para que os pedidos da Santa fossem atendidos, tanto que dirigiu uma carta repleta de apelos ao papa Pio XI. A conflagração mais destrutiva da história que terminaria com a explosão de duas bombas atômicas, se configuraria inteiramente em 1º de setembro de 1939 com a Alemanha Nazista invadindo a Polônia e conquistando-a em apenas três semanas, inaugurando uma nova modalidade de guerra, a blitzkrieg (guerra-relâmpago).

A ideia da paz foi referida pelo historiador Bruno Cardoso Reis, de acordo com o qual a Gestapo, polícia política de Hitler, chegou a fazer relatórios aludindo a “perigosa campanha católica” em favor da paz que se fazia a partir do santuário, tendo como pano de fundo a ausência de Portugal na Segunda Guerra. Reis chamou a atenção para o fato de a hierarquia católica não ter apoiado Fátima no início. Em compensação, o jornal Novidades, ligado ao episcopado, apoiou as peregrinações a Fátima muito antes da oficialização da consagração do culto.

Além da advertência quanto a proximidade da guerra, houve o pedido para que o mundo orasse pela Rússia, do contrário aquele país disseminaria seus erros por toda parte. Àquela altura, ninguém possuía a mais vaga noção de que a Rússia rumava para o comunismo, tampouco o que representaria a instauração de um tal regime em escala continental. A Revolução de Março, por exemplo, chegou a ser saudada no Ocidente como uma autêntica revolução democrática que havia derrubado um governo despótico e autocrático e implantado um regime constitucional liberal! É notório verificar que a data da primeira aparição da Virgem, 13 de maio, coincidiu com uma sangrenta incursão, organizada por Lênin, numa igreja em Moscou, episódio que contribuiu para apressar a Revolução Bolchevique. O czar e sua família foram fuzilados em Yekaterinburgo, no centro da Rússia, em julho de 1918. No mesmo mês, o Congresso dos Soviets adotou uma constituição que aboliu a propriedade privada sobre as terras, minas, fábricas, estradas de ferro, etc.; a propaganda religiosa foi praticamente proibida. Em 2 de março de 1919, era organizada a Terceira Internacional, ou Comintern, como passou a ser conhecida.

Em 1927 foi iniciada a nova administração, com os planos quinquenais. Em 1937 foi organizado o auxílio à China e realizado um grande expurgo, no exército e na administração. Mais de 35 milhões de camponeses católicos foram assassinados sob Stálin, em campos de concentração ou por esquadrões de fuzilamento. A Rússia absorveu na União Soviética grande número de países vizinhos. Nenhum outro acontecimento do século XX reflete tão bem a insegurança quanto os perigos de um levante comunista, a maior ameaça global à liberdade em todos os tempos.

O Terceiro Segredo

Entre 22 de dezembro de 1943 e 9 de janeiro de 1944, Lúcia escreveu uma longa carta contando os detalhes do terceiro segredo e a encaminhou, por intermédio do bispo titular de Gurza, Dom Manuel Maria Ferreira da Silva (1888-1974), seu antigo confessor no Porto, ao bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva. O segredo, avisou Lúcia, não devia ser revelado ao público antes de 1960. Por sua vez, Dom João Pereira Venâncio (1904-1985), bispo auxiliar de Leiria, encaminhou a carta à Nunciatura Apostólica em Lisboa. Ali permaneceu entre outubro de 1958 e fevereiro de 1959, até que o núncio e depois cardeal Fernando Cento (1883-1973) remeteu-a a Roma, onde foi lido pelo papa João XXIII e pelo cardeal Alfredo Ottaviani, prefeito da Sagrada Congregação do Santo Ofício. O documento acabou guardado nos Arquivos Secretos do Vaticano.

João XXIII leu a carta em seu escritório, a portas fechadas. O tradutor era o monsenhor Paulo José Tavares (1920-1973). Quando os dignitários deixaram o recinto, seus rostos “pareciam terrivelmente assustados, como se tivessem visto um fantasma”. Abalado, João XXIII comentou: “Não podemos revelar o segredo. Ele provocaria pânico.” Muitos passaram a desconfiar que o terceiro segredo anunciaria uma terrível catástrofe natural, uma terceira guerra mundial e até a chegada de seres extraterrestres. Em 1981, ao ser interpelado sobre o terceiro segredo na cidade alemã de Fulda, João Paulo II respondeu: “O mais importante é estarmos preparados e fortes, confiantes em Jesus Cristo e Sua Mãe.” E tomando o terço na mão, disse: “Eis o remédio contra o mal. Rezem, rezem e não perguntem mais nada. Confiem tudo o mais a Nossa Senhora.” Devido à “graves razões”, o Vaticano recusava-se a divulgar a mensagem porque “provocaria pânico”. Essa atitude alimentou o imaginário dos que temiam pelo futuro da humanidade. Não faltaram aqueles a explorar o medo coletivo do fim do mundo.

Um dos principais dogmas da Igreja Católica, proclamado ex cathedra (da cadeira papal), presumindo-se a infalibilidade do Papa, é a de que Maria é a “Mãe de Deus”. No início de 1987, por ocasião das comemorações do Ano Mariano de 1987-88 e do jubileu vindouro dos dois mil anos do nascimento de Cristo, João Paulo II acentuou o papel de Nossa Senhora. Em 13 de maio de 2000, ao ensejo da beatificação dos dois videntes que morreram precocemente, setores contrários à Igreja não perderam a oportunidade de saírem novamente ao ataque achacando-a por continuar reavivando a idolatria da “deusa sádica de Fátima” – como convenientemente a chamam pela “falta de escrúpulo” demonstrada ao convencer as crianças a substituírem o estudo pelas rezas, a não comerem e a autoflagelarem-se –, “frente a qual se humilham e rastejam os cidadãos e cidadãs católico-masoquistas de um país que se pretende moderno e civilizado, acelerando a degeneração do cristianismo em marianismo, que o papa Karol Wojtyla encoraja pessoalmente”.

Foi por ocasião dessa beatificação – ratificada por um milagre idoneamente atestado por dois médicos – transmitida ao vivo pela RTP (Rádio e Televisão Portuguesa), que o cardeal Angelo Sodano (1927-), secretário de Estado do Vaticano, ante cerca de oitocentas mil pessoas presentes no Santuário de Fátima, procedeu à leitura – em português – do texto revelando parte do conteúdo do Terceiro Segredo de Fátima e de um documento de apoio à sua interpretação de que a visão se referia ao atentado sofrido pelo papa João Paulo II e à “guerra promovida por sistemas ateus contra a Igreja e contra os cristãos”. Sodano disse que o terceiro segredo revelava “martírio e sofrimento” a um “bispo vestido de branco” que “cai por terra aparentemente morto, sob disparos de uma arma de fogo”. O Vaticano prometeu que mais detalhes iriam ser divulgados futuramente após uma preparação “apropriada”. A revelação poderia ainda conter uma outra visão profética, segundo a Igreja. O porta-voz da ortodoxia católica, o cardeal alemão Joseph Alois Ratzinger, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé – e que em abril de 2005 se tornaria o papa Bento XVI (Benedictus, em latim, e Benedetto, em italiano), sucedendo a João Paulo II –, insistiu no caráter simbólico da visão, a fim de reagir à decepção de expectativas acumuladas por católicos ao longo de mais de oitenta anos.

Na tarde de 13 de maio de 1981 – justamente a data que ficou marcada como a do início das aparições em Fátima –, durante uma audiência papal a céu aberto na Praça de São Pedro, em Roma, diante de dez mil pessoas, João Paulo II abaixou-se para abraçar uma criança caracterizada como Nossa Senhora de Fátima. Nesse exato momento, o turco Mehmet Ali Agca (1959-) disparou dois tiros contra a sua cabeça, a curta distância. As balas não atingiram o papa, e sim dois peregrinos que se encontravam próximos. Agca atirou novamente, atingindo desta vez o papa no estômago. “Maria, minha mãe” – foram as palavras que João Paulo II murmurou antes de perder os sentidos naquela tarde. Não tivesse se abaixado para abraçar a menina com o retrato de Maria, aquelas duas balas teriam atravessado seu crânio, matando-o instantaneamente. Ainda assim, seis meses foram necessários à sua recuperação. Enquanto convalescia na Policlínica de Roma, João Paulo orava ainda mais fervorosamente, principalmente a Nossa Senhora de Fátima, uma vez que estava convencido de que a sua intercessão direta lhe havia salvado a vida. Ele releu os três segredos de Fátima e instruiu Pavol Hnilica (1921-2006), um bispo eslovaco que tinha sido secretamente ordenado na Tchecoslováquia comunista, que lhe enviasse tudo o que conseguisse reunir a respeito de Fátima, para sua revisão. O papa despachou também a irmã Maria Ludovica De Angelis (1880-1962) para Fátima a fim de que se encontrasse com o bispo João Venâncio, já aposentado.

Nessa conjuntura, mais precisamente em agosto, é que João Paulo II relatou haver recebido uma visão do futuro relacionada ao Terceiro Segredo de Fátima, ao mesmo tempo em que um fenômeno solar semelhante ao de Fátima se manifestava. O bispo Hnilica contou que por ocasião de sua alta da clínica, o papa lhe teria dito: “Compreendo agora que o único modo pelo qual o mundo pode ser salvo da guerra, do ateísmo, é a conversão da Rússia, conforme a mensagem de Fátima.” Depois de recuperado, o papa concedeu seu perdão ao jovem turco. Agca declarou, depois da divulgação do terceiro segredo, que se sentia aliviado por ter sido usado “como um instrumento de um plano misterioso”. O pontífice sempre fez questão de enfatizar que não morrera por milagre e que sua vida havia sido salva por ela: “A Virgem de Fátima desviou com suas mãos as balas”, dizia. Como gratidão, em suas viagens pelo mundo, ele visitou mais de cem santuários dedicados à Virgem.

João Paulo II sempre fora um ardoroso devoto de Nossa Senhora, e para muitos analistas isso constituía um dos principais fatores que explicavam o revigoramento do marianismo. A devoção de Karol Wojtyla começou na infância, após a morte de sua mãe, quando ele tinha apenas 8 anos. Aos 10 anos, Lolek, apelido pelo qual era chamado, passava todas as manhãs pela Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizada em frente à sua casa. Ficava por lá uns cinco minutos e depois saía correndo para a escola. Aos 15 anos foi aceito como membro de um grupo de jovens devotos de Nossa Senhora, e passados seis meses, já era seu presidente. João Paulo II dedicou seu pontificado a Maria. Seu lema pessoal, “Totus Tuus” (“Totalmente Teu”), ilustra sua completa consagração à Virgem.

Numa locução que proferiu em 13 de maio de 1982 como peregrino em Fátima, ocasião em que deixou uma das balas que o atingiram na coroa que adorna a cabeça da estátua da Virgem, ele qualificou a tentativa de assassiná-lo “uma coincidência misteriosa com o aniversário da primeira aparição de Fátima”. Durante essa peregrinação, João Paulo celebrou uma missa durante a qual consagrou o mundo e, indiretamente, a Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Suas ações, desde a sua recuperação, pareciam confirmar que ele estaria seguindo um cronograma ditado pelos Céus, de acordo com o que ele acreditava ser a vontade manifesta de Deus.

Severino Vicente da Silva definiu o milagre como “uma intervenção divina na vida de uma pessoa”. Destarte, reflete ele:

“Se o papa João Paulo II disse que sua vida foi poupada na Praça de São Pedro por intervenção de Nossa Senhora de Fátima, é uma questão de fé. Iguais a essa, tropeçamos aos milhares quando escutamos o povo sobre as suas necessidades e acontecimentos que não podemos explicar racionalmente. O pontífice foi sempre, desde a infância, um devoto de Nossa Senhora. Especialmente a de Fátima. Portugal, temeroso da Revolução Bolchevique durante a implantação da ditadura salazarista, com o povo em abandono, as crianças viram que os céus as protegiam e a todos que tivessem fé. Os segredos de Fátima estão ligados a esse fenômeno da irreligiosidade. Pede a recitação do rosário. A mesma senhora que derrotou os turcos em Lepanto com as armas da oração, virá trazer uma nova vitória. João Paulo II dedicou parte de sua vida a essa esperança. Só poderia realizá-la com esse apoio de Nossa Senhora, a de Fátima, que predisse a ‘desgraça’ e também a vitória sobre ela. Lúcia, uma das crianças videntes, teria dito a João Paulo II que o Terceiro Segredo de Fátima estava relacionado com o seu pontificado.”

A infiltração comunista na Igreja

O cardeal italiano Mario Luigi Ciappi (1909-1996), teólogo pessoal do papa João Paulo II, disse que “no Terceiro Segredo (de Fátima) é predito, entre outras coisas, que a grande apostasia na Igreja começaria pela hierarquia”. Ora, a infiltração do comunismo na Igreja Católica e em outras religiões é algo tão assombroso que a mais leve insinuação a esse fato é imediatamente rechaçada por aqueles que Olavo de Carvalho chamou apropriadamente de “covardes genuínos, afetados da síndrome de simulação de normalidade”, como um delírio paranoico do mais alto grau. Mas um fato tão evidente e notório como esse não pode ser simplesmente atribuído a um adepto da “teoria da conspiração” e em seguida posto de lado e esquecido, já que, conforme nos lembra Carvalho, “desde a década de 20, enquanto os regimes comunistas promoviam a mais brutal e ostensiva perseguição aos cristãos nos seus territórios, os grandes estrategistas do comunismo – numa gama que vai de Stálin a Antonio Gramsci – já haviam chegado à conclusão de que, nas nações democráticas, o ataque frontal à Igreja não ia funcionar: o que era preciso era infiltrar-se nela, corrompê-la e destruí-la por dentro, esvaziá-la de todo conteúdo espiritual e usá-la como caixa de ressonância para as palavras-de-ordem emanadas do comando revolucionário.”

Douglas Hyde (1860-1949), secretário do Partido Comunista Britânico [Communist Party of Britain (CPB)], revelou que nos anos 30 os chefes comunistas enviaram uma diretiva para a escalada mundial da infiltração na Igreja Católica. Como diretor do jornal The Daily Worker, Hyde tinha que refutar escritores católicos como Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), e cada vez que fazia isso ficava impressionado pelo confronto das ideias. Em certa ocasião, ao entrar numa igreja, num recanto escuro, defronte à imagem da Virgem Santíssima, foi profundamente tocado: “Era feliz. Dei-me conta de que minha dolorosa peregrinação terminara. Murmurei: ‘Senhora tão meiga e tão boa, sê boa para mim!’.”

Bella Dodd (1904-1969), agente soviética e assessora jurídica do Partido Comunista Americano [Communist Party of America (CPUSA)] nos anos 30, no início de 1953, em pleno macartismo, período marcado pelas ações de caça aos comunistas conduzido pelo senador Joseph Raymond McCarthy (1909-1957) e sua Comissão de Atividades Anti-Americanas, consentiu em dar, pela primeira vez, informações pormenorizadas acerca da infiltração comunista nas instituições dos Estados Unidos. E essas foram de tal magnitude, que nem mesmo um jornal esquerdista como o The New York Times pôde deixar de noticiá-las, tanto que destacou na primeira página de sua edição de 11 de março de 1953 que Bella havia jurado no dia anterior, perante a Subcomissão do Senado de Segurança Interna (Senate Subcommittee on Internal Security), “que os comunistas tinham se infiltrado em muitos escritórios do Congresso e agiam disfarçados de assessores do próprio presidente dos Estados Unidos”. O mesmo jornal reportou em sua edição de 8 de março de 1954, que Bella “advertiu ontem que a ‘filosofia materialista’ que agora orientava a educação pública, acabaria por desmoralizar a nação”.

Logo depois, naquele ano, Bella lançou o livro The School of Darkness, no qual detalhava que a infiltração comunista na Igreja estava sendo feita por milhares de agentes encarregados de colocar em seminários e outras instituições religiosas o maior número possível de “adormecidos”, isto é, agentes que de imediato não desempenhariam nenhum papel ativo, mas que ficariam aguardando que fossem ordenados e subissem até ocupar posições de influência e autoridade como monsenhores e bispos. Bella confessou que ela mesma teria ajudado a colocar, nos anos 30, mais de 1.100 homens no sacerdócio para destruir a Igreja a partir do seu interior, muitos dos quais, naquele momento, já ocupavam os mais altos cargos da Igreja. A ideia geral era a de destruir antes a fé do povo usando a própria instituição da Igreja, que para tanto deveria se converter em uma pseudo-religião, qualquer coisa parecida com o catolicismo, mas que já não seria mais o autêntico catolicismo. “Assim que a fé fosse destruída”, explicou ela, introduzir-se-ia na Igreja um complexo de culpa “para estigmatizar a ‘Igreja do passado’ como opressiva, autoritária, cheia de preconceitos, arrogante ao afirmar-se como única possuidora da verdade, além de responsável pelas divisões das comunidades religiosas através dos séculos. Isto seria necessário para que os responsáveis da Igreja, envergonhados, adotassem uma ‘abertura ao Mundo’ e uma atitude mais flexível para com todas as religiões e filosofias. Os comunistas explorariam então essa abertura para enfraquecer insidiosamente a Igreja e implementar mudanças que de tão radicais não mais reconheceríamos a Igreja Católica.”

Tudo o que Bella disse cumpriu-se ao pé da letra – não que ela fosse uma profetisa, visto que apenas expôs um plano macabro do qual tomara parte e se arrependera – menos de uma década depois com aquele que até o momento é o último Concílio Ecumênico, o Vaticano II, que se reuniu de 1962 a 1965 no próprio Vaticano, sob a presidência dos papas João XXIII (1881-1963, eleito em 1958) e Paulo VI (1897-1978, eleito em 1963), e que foi e continua sendo elogiado por muitos como o concílio que promoveu “a abertura para os grandes temas da atualidade no mundo”, mas que não foi senão um deliberado e devastador assalto à Igreja e à fé católicas. Os “reformistas” ou “neomodernistas” lograram destruir todo e qualquer vestígio da Igreja e da fé tradicionais ao orientarem a Igreja para uma direção completamente nova, no que a atualização do rito da Missa, que passou a ser rezada não mais em latim, mas em língua vernácula, constitui um tímido exemplo quando comparada às nefandas resoluções de se estabelecer um “diálogo” com comunistas e maçons, seus inimigos declarados, e de se abandonar o ensinamento de que a Igreja Católica Romana é exclusivamente a única e verdadeira Igreja de Cristo, dispensando-a assim de procurar a reconversão e o regresso dos hereges e cismáticos. Como se não bastasse tamanhos disparates de tão novas e estranhas ideias, a Igreja pós-Vaticano II incorreu na demolição da Liturgia, da Teologia e da própria Alma da Igreja. O filósofo, historiador e cientista político alemão Eric Voegelin (1901-1985) assinalou esse enfraquecimento da Igreja, “abalada por uma crescente inquietação no seu interior” e que cada vez mais assumia uma posição meramente defensiva “contra os movimentos intelectuais dominantes do nosso tempo”.

O padre Paul Kramer, em seu abalizado e alarmante livro O Derradeiro Combate do Demônio, denuncia que ainda antes da abertura do Concílio, na primavera de 1962, em Metz, cidade no nordeste da França,

“o cardeal Eugène Tisserant encontrou-se, nada mais nada menos, com o bispo metropolitano Nikodim, da Igreja Ortodoxa Russa – um agente do Serviço Secreto Soviético, o Comitê para Segurança do Estado [Komitet Gosudartsvennoi Besorpasnosti (KGB), a maior e mais poderosa agência de espionagem de todos os tempos)], tal como o eram os outros prelados ortodoxos. Nesse encontro, Tisserant e Nikodim negociaram o que viria a ser conhecido como o Pacto de Metz, ou, mais popularmente, o Acordo Vaticano-Moscou. A existência desse Acordo Vaticano-Moscou é um fato histórico irrefutável, atestado em todos os seus pormenores por monsenhor Roche, secretário particular do cardeal Tisserant. O acordo era substancialmente o seguinte: o papa João XXIII, de acordo com o seu ardente desejo, seria ‘favorecido’ com a presença de dois observadores ortodoxos russos no Concílio; em troca, a Igreja Católica concordava que o Concílio Vaticano II não condenaria o comunismo soviético nem a Rússia soviética. Significava isto, em essência, que o Concílio iria comprometer a liberdade moral da Igreja Católica ao fingir que aquela forma mais sistemática do Mal humano na História da Humanidade (o Comunismo) não existia – apesar de, na mesma altura em que o Concílio iniciava os seus trabalhos, os soviéticos perseguirem, prenderem e assassinarem milhões de católicos.”

Desde então, “sob os pretextos mais santos”, nas lancinantes palavras de Olavo de Carvalho, “todo anticomunismo é desestimulado e boicotado nos grupos e organizações que insistam em continuar obedecendo à ordem de Pio XII, transmitida a todos os católicos do mundo, para que combatessem o comunismo até com risco de suas próprias vidas. […] Mais nefasta […] é a ação amortecedora, castradora, empreendida desde dentro e desde cima por prelados e líderes leigos aparentemente respeitáveis, imunes a qualquer suspeita, cuja função estratégica não é pregar o comunismo, mas simplesmente secar as fontes do anticomunismo católico até que a Igreja se resuma, como no Brasil de hoje se resume, à Igreja esquerdista militante e agressiva de um lado, e de outro a Igreja apolítica, omissa, silenciosa, manietada, debilitada e doente. Muitos, para justificar o injustificável, alegam o primado do espiritual. Nossa missão, dizem, é orar e buscar a santidade, não sair em campo de armas em punho. Mas a hipocrisia desses indivíduos revela-se da maneira mais patente tão logo são testados: se permanecem silenciosos e tímidos quando suas organizações e a Igreja como um conjunto são difamadas e cobertas de injúrias pela esquerda, muito outra é sua reação quando alguém os critica desde um ponto de vista cristão e denuncia sua omissão e preguiça. Aí reagem com a fúria de mil demônios, desancando o infeliz como se fosse um rebelde, um heresiarca, um dinamitador de sacristias. Muitos dos que fazem isso, é claro, não são agentes infiltrados. São apenas covardes genuínos, afetados da síndrome de simulação de normalidade. Mas é impossível que estes, tímidos por natureza, entrem em combate com tanta presteza sem ser incitados pelos primeiros. Simplesmente não é verossímil que tanta omissão em face do comunismo, aliada a tanta virulência contra o anticomunismo, não tenha nada de comunista nas fontes que a inspiram.”

O papa João Paulo II (1920-2005, eleito em 1978), que se de um lado engajou-se pessoalmente para livrar o Leste Europeu e a sua terra natal, a Polônia, das garras do comunismo, do outro pouco fez para deter o avanço das correntes ditas “progressistas” como a Teologia da Libertação na América Latina, mormente no Brasil, deixando, por exemplo, de extirpar os quadros assumidamente marxistas, limitando-se a aplicar-lhes tímidas recomendações e reprimendas. No início de 1981, ainda praticamente no início, portanto, de seu pontificado, descreveu com dramaticidade a crise e o paroxismo a que chegara a Igreja e os católicos pós-Vaticano II, dando-nos a esperança de que pudesse modificar tal situação que, no entanto, para nos causar ainda mais espécie, só se agravou nos últimos anos: “Temos que admitir realisticamente e com sentimentos de intensa dor que hoje os Cristãos, na sua grande parte, sentem-se perdidos, confusos, perplexos e mesmo desapontados; abundantemente se espalham ideias contrárias à verdade que foi revelada e que sempre foi ensinada; heresias, no sentido lato e próprio da palavra, propagaram-se na área do dogma e da moral, criando dúvidas, confusões e rebelião; a liturgia foi adulterada. Imersos num relativismo intelectual e moral e, portanto, no permissivismo, os Cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, por um iluminismo vagamente moral e por um Cristianismo sociológico desprovido de dogmas definidos ou de uma moralidade objetiva.”

A Consagração da Rússia

A comunhão reparadora está no centro da mensagem de Fátima: Nossa Senhora convida os videntes e, com eles, toda a humanidade, a solidarizar-se com Jesus Cristo em sua obra de salvação: pede-lhes, insistentemente, orações e sacrifícios pela conversão dos pecadores, especialmente dos mais renitentes. Diferentemente de Lourdes, onde as curas milagrosas obtidas com o uso da água da fonte local ocuparam posição de destaque desde o início das aparições, o que mantém Fátima na ordem do dia, na acepção de José Carlos Marcondes, é “o teor da mensagem da Virgem e o seu alcance universal” – e não propriamente os milagres que ali se verificaram – ao tocar em temas relevantes para o século XX: “Preocupante dimensão ateísta da revolução comunista russa; perseguição religiosa consequente; a expansão comunista como ameaça à liberdade religiosa; aniquilamento de várias nações nesse processo de expansão – os chamados países satélites da Rússia; menção a uma segunda guerra mundial ainda pior do que a primeira; importância de todo o episcopado caminhar unido ao Papa – a consagração da Rússia solicitada por ela deveria ser feita pelo papa em união com todos os bispos do mundo; previsão de queda do comunismo, caso fosse atendido o seu pedido de consagração da Rússia.”

Se a força do apelo de Fátima, nas palavras de Marcondes, “não cessou de interpelar a Igreja por todo o século passado, impedindo que o próprio papa e os bispos (a mais alta hierarquia da Igreja Católica) a ignorassem”, é preciso ressalvar, e com pesar, que até o momento todos os papas e bispos tem ignorado sistematicamente o apelo específico feito pela Virgem por ocasião da Terceira Aparição em 13 de julho de 1917 – quando previu o fim da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda –, isto é, a Consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, daí que até hoje a Rússia não tenha se convertido e encontrado a paz, e seus erros, como predisse a Virgem, continuem a se espalhar pelo mundo, promovendo guerras, revoluções e perseguições sem fim à Igreja.

“Chegou a hora!”, anunciou Nossa Senhora por intermédio de Lúcia, em 1929 – ano em que, devido a crescente especulação e a manobra de alguns banqueiros, o mundo mergulharia numa profunda depressão econômica com o crack da Bolsa de Valores de Nova York. A locução interior, relatada numa carta escrita por Irmã Lúcia em 1943, afirmava que Nosso Senhor pediu que comunicasse Suas preocupações aos bispos de Espanha. Sua carta afirma, em parte: “Em vista do ato de consagração realizado por Sua Santidade – em 31 de outubro de 1942 –, Ele (Nosso Senhor) promete que a guerra terminará em breve. Mas uma vez que a consagração foi incompleta, a conversão da Rússia será postergada. Se os bispos de Espanha não atenderem a Seus desejos, a Rússia novamente será o flagelo com que Deus os punirá.”

A Consagração pedida não foi realizada por Pio XI. O pedido foi comunicado a Pio XII em 20 de dezembro de 1940 e ela foi feita em plena Segunda Guerra, em 31 de outubro de 1942, por ocasião do 25º aniversário das aparições de Fátima. Pio XII repetiu-a dois meses depois, em 8 de dezembro, consagrando o mundo e a Rússia, mas sem contar com a necessária adesão de todos os bispos. Irmã Lúcia lastimou ser tarde demais para que se evitassem as cinquenta milhões de mortes atrozes. Paulo VI repetiu a consagração em 21 de novembro de 1964, mas ainda não parecia ter sido eficaz… João XXIII nada fez a respeito. João Paulo II tornou a realizá-la, para surpresa do mundo, em 13 de maio de 1982, quando de sua visita a Fátima, em agradecimento por ter escapado do atentado que sofrera. Repetiu-a em Roma em 16 de outubro de 1983. Não satisfeito – por ter sido a consagração um ato isolado –, fez enviar por sua Secretaria de Estado, em 8 de dezembro de 1983, cartas aos bispos do mundo todo, conclamando-os a participarem da renovação da consagração, que se deu, de modo solene, em 25 de março de 1984, em Roma, por ocasião da Festa da Encarnação do Senhor no Seio da Virgem Santíssima.

Logo em seguida, começaram a ocorrer mudanças promissoras na Rússia. Diante do colapso da economia soviética, Mikhail Gorbatchev (1985-1991) anunciou a glasnost (transparência) e a perestroika (reestruturação). E em novembro de 1989, o mundo assistia embasbacado a queda do Muro de Berlim e a consequente abertura dos países comunistas do Leste Europeu. China, Coreia do Norte, Vietnã e Cuba, porém, não alteraram e até endureceram seus regimes. O sucessor de Gorbatchev, Boris Yeltsin (1931-2007), procurou acelerar o ritmo das reformas, no que contou com a oposição dos velhos comunistas que tentaram depô-lo mediante um desastroso golpe de Estado. Quando o processo de redemocratização parecia irreversível e o Ocidente comemorava a derrocada do comunismo, eis que, no final de 1999, Vladimir Putin (1952-), ex-diretor para assuntos externos da KGB, vence as eleições com o apoio dos velhos comunistas agora reunidos em torno da temida máfia russa. Desde que chegou ao poder, Putin, que foi presidente até 2008, quando assumiu o cargo de primeiro-ministro, vem tomando medidas para concentrar os poderes nas mãos do Executivo, eliminar os partidos políticos de oposição e aperfeiçoar os mecanismos de controle e pressão sobre os meios de comunicação e a sociedade civil, ou seja, nada mais do que o velho receituário comunista seguido à risca por outros de sua estirpe, como Hugo Chávez (1954-2013), Evo Morales (1959-) e Lula (1945-). Com Putin, os principais canais de televisão do país e os meios de comunicação mais importantes foram colocados sob a tutela do Estado ou simplesmente fechados. As transmissões da Voz da América e da Rádio Europa Livre foram proibidas. Usando as vastas reservas de petróleo e de gás da Rússia como armas de intimidação e chantagem, Putin firmou tratados e alianças político-militares com a China, a Coreia do Norte, a Venezuela, o Irã e outros países árabes fomentando a proliferação de armas nucleares e de destruição em massa, bem como o terrorismo, sem que sofresse nenhum tipo de retaliação por parte dos países do Ocidente ou da Organização das Nações Unidas (ONU), nem mesmo quando suas tropas invadiram a Chechênia chacinando milhares de civis desarmados. Sob o regime ditatorial de Putin, a diretiva é a “liquidação das igrejas católicas na Rússia” mediante a “restrição dos direitos, poderes e privilégios das comunidades religiosas menores, mais novas ou estrangeiras”, ao mesmo tempo em que se confere um estatuto especial às religiões “tradicionais” da Rússia, em primeiro lugar à Ortodoxa, em seguida, nesta ordem, à Judaica, à Islâmica e à Budista.

Então, se a Rússia foi consagrada em 1984, o que é que houve? O que houve é que não houve conversão de espécie alguma na Rússia, nem política, nem moral, tampouco religiosa, porque na verdade não houve a consagração tal como pedida por Nossa Senhora, consagração que a Irmã Lúcia, em várias ocasiões, como em 1946, 1949 e 1952, fez questão de explicar bem claramente como tendo de ser a Consagração da Rússia, e não do mundo, conforme especificou Nossa Senhora. Em 1989, Irmã Lúcia confidenciou a um de seus parentes que a Consagração conduzida por João Paulo II e os bispos em 1984 havia sido aceita pelo Céu, e que, portanto, a Rússia se reconverteria, embora não precisasse quando. Todavia, ela ressalvou que como a Consagração não havia sido perfeita, os resultados que adviriam tampouco seriam perfeitos. A consagração de 1984, da forma como havia sido feita, isto é, sem a participação de todos os bispos e sem a menção explícita da Rússia, não poderia produzir os efeitos que Nossa Senhora de Fátima prometera caso a Consagração da Rússia se fizesse conforme Ela pedira.

A questão por demais intrigante que surge diante de tudo isso é: por que até hoje, quase um século depois, ao longo de toda uma cadeia de calamidades e sofrimentos, nenhum papa se dispôs a realizar a Consagração da Rússia tal como Nossa Senhora de Fátima pedira? E particularmente, por que o papa João Paulo II não a fez, deixando de mencionar a Rússia na cerimônia de consagração que objetivava a mesma Rússia? O estudioso católico Christopher A. Ferrara, em seu artigo Os fatos provam-no: A Rússia NÃO foi consagrada, nos faz saber que a resposta para tais perguntas nos teria sido dada por uma fonte altamente reputada do Vaticano, ninguém menos do que um dos assessores mais próximos do papa, o cardeal eslovaco Jozef Tomko (1924-): “Roma receia que os Ortodoxos Russos fiquem ofendidos se Roma fizer uma menção específica da Rússia numa oração deste gênero.”

Quando será feita uma nova tentativa de corresponder ao pedido de Maria à Irmã Lúcia em Fátima não o sabemos; roguemos a Deus para que muito em breve a tão solicitada Consagração da Rússia seja finalmente concretizada. Tampouco sabemos se é de fato pelo temor da reação dos Ortodoxos Russos – ou por algum outro motivo inconfessável – que a consagração tem sido adiada. De qualquer forma, as consequências de não se fazer o que Ela pediu estamos todos a enfrentar, como Ela mesma nos avisou: o sofrimento da Igreja, o avanço do comunismo e o aniquilamento de várias nações.

Intervenção extraterrestre em Fátima?

Ao reinterpretarem as visões das três crianças sob o prisma da moderna ufologia na obra que produziram em conjunto, Intervenção Extraterrestre em Fátima: As Aparições e o Fenômeno OVNI, resultado de seis anos de pesquisas, Fina d’Armada (historiadora feminista e marxista) e Joaquim Fernandes (doutor em História com a tese O Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa: Do Fim da Modernidade até Meados do Século XIX, apresentado à Faculdade de Letras da Universidade do Porto) contestaram um dos pilares fundamentais do universo católico lusitano. Entre 1975 e 1981, Fina d’Armada contou com uma bolsa do Instituto Nacional de Investigação Científica e pôde consultar os arquivos secretos do Santuário de Fátima. Fina d’Armada também teve acesso aos Arquivos Formigão, deixados pelo canônico doutor Manuel Nunes Formigão (1883-1958), um dos poucos que conseguiu ganhar a confiança dos videntes e que em 27 de setembro de 1917 os interrogou detalhadamente sobre suas visões.
Fátima: OVNI projetando Virgem Maria

Formigão ouviu as declarações dos pastorinhos e em seguida abandonou a aldeia por não estar convencido de que se tratasse de uma aparição mariana. A partir dessa fonte, Fina d’Armada construiu um “retrato-falado” da entidade, que destoa muito da imagem “oficial” de Nossa Senhora de Fátima: media 1 metro de altura e vestia uma roupa branca e dourada, que não chegava até os pés, e que tinha costuras ao longo e ao largo como se fosse acolchoado. Estava coberta com uma capa branca e levava uma esfera à altura do peito, que mais tarde foi interpretada como o Sagrado Coração de Maria. Em suas primeiras declarações, os pastorinhos descreveram a “mulherzinha” de grande beleza como tendo olhos pretos. Ela falava sem mexer os lábios e também não mexia os pés quando se deslocava e descia até o local da aparição por uma rampa luminosa. Entretanto, em seu livro Encuentros con Humanoides, o escritor e ufólogo espanhol Antonio Ribera i Jordà (1920-2001), apesar de reconhecer que Fina d’Armada consultou fontes “de primeira mão”, atribui esse retrato-falado à “obra do imaginário de J. Thedim, que se inspirou em uma imagem de Nossa Senhora da Lapa e não nas descrições de Lúcia”.

Ainda que a versão oficial não faça nenhuma menção, Fina d’Armada resgatou referências a uma quarta vidente, Carolina Carreira, filha de Maria Carreira, responsável pela construção da Capela da Cova de Iria. Carolina teve um encontro com “uma criança” que assemelhava ter uns 9 ou 10 anos e que se comunicou com ela sem falar, “como dentro de mim”.

Os documentos registram ainda numerosos testemunhos do “Milagre do Sol” em 13 de outubro. Antes do início da aparição, foram vistos pequenos objetos luminosos que na Segunda Guerra seriam chamados de foo-fighters [um jogo de palavras misturando o termo francês feu (fogo) e o inglês fighter (lutador, brigador)], e que mais tarde os ufólogos enquadrariam na categoria de “sondas”. Um deles chegou a golpear a cabeça de uma irmã de Carolina Carreira. Também foi observado um globo prateado, um objeto em forma de escada e “nuvens” que andavam em direção contrária ao vento. Quanto ao “fenômeno solar”, algumas testemunhas asseguraram que foi o próprio Sol que se movimentou, enquanto outras sugeriram que um disco “metálico” ou de “vidro” se antepôs ao astro. O certo é que o “sol” volveu-se transparente e deixou visível três seres que foram interpretados como a “Sagrada Família”. Um deles estava com o braço estendido, postura essa que foi interpretada como uma “benção de São José”. Relâmpagos cujas descargas elétricas vinham associadas a ruídos sussurrantes e estalos, anunciavam a chegada da Virgem. Lúcia declarou que quando a Senhora se afastava, ouvia um som de “rojão” explodindo à distância. Interrogada por que frequentemente ela abaixava o rosto em vez de fitar diretamente a Virgem, Lúcia respondeu, com uma certa inocência: “Porque às vezes ela me ofuscava!”

Fina d’Armada e Joaquim Fernandes acusaram as autoridades da Igreja de terem manipulado os videntes procurando conferir aos relatos uma visão de cunho religioso, conquanto originalmente não teriam sido. Para eles, Nossa Senhora seria um ser extraterrestre, haja vista que seu aspecto combinaria com aquele que as testemunhas do Fenômeno OVNI relatariam décadas depois: cabeça grande e calva, desproporcional ao corpo, sem orelhas visíveis, vestindo uma espécie de capacete e uma indumentária à guisa de roupa de astronauta. Uma nave transportava a criatura até o local e a projetava num cone de luz para junto da azinheira, produzindo os diversos fenômenos que a acompanhavam. A dupla de historiadores também abordou outro aspecto polêmico e pouco estudado: o das curas milagrosas verificadas em 13 de outubro. A maioria correspondia a doenças não muito graves como gripes e alguns casos de tumores ou paludismo (malária). Curiosamente, os que sararam estavam dentro da zona da Cova de Iria, onde o “sol” fixou o seu voo rasante, a mesma em que teriam se secado as roupas dos que se molharam com a chuva.

O Fenômeno OVNI, ao contrário do que acreditam e apregoam Fina d’Armada, Joaquim Fernandes e a quase totalidade dos ufólogos, não é de natureza física, material, tampouco de origem extraterrestre, mas consiste em um fenômeno puramente espiritual de origem maligna, um dos maiores prodígios do demônio na Terra. A semelhança entre os fenômenos marianos e ufológicos decorre justamente disso, ou seja, que se tratam de fenômenos puramente espirituais, com a diferença de que o demônio é quem está por trás dos discos voadores e seres extraterrestres, assim como dos mortos comunicantes do além em centros espíritas. Sem que se parta dessa premissa, ou ao menos da consideração dessa premissa, qualquer interpretação que se segue resultará em equívoco total, se é que não se trata de um equívoco proposital, adrede planejado, daquele gênero malicioso a que frequentemente recorre o demônio e seus asseclas para disseminarem falsas verdades e gerarem o máximo de confusão de modo a que todos esqueçam a verdadeira Verdade. O plano de Satanás, arquitetado desde que ele se rebelou contra Deus – plano esse a que aderiram consciente ou inconscientemente, ingênua ou deliberadamente os ufólogos, que não estão fazendo mais do que desempenhar um papel ativo no plano do Anticristo –, é precipuamente o de incutir aos poucos falsas verdades na humanidade para ludibriá-la, a ponto de fazer com que a ordem da realidade seja invertida e a verdade de Deus seja esquecida, camuflada, distorcida e ultrajada.

O demônio é astuto e evita aparecer em sua forma real, pois se fizesse isso iria comprometer o plano de Satanás, já que o plano chave é fazer com que a humanidade acredite que o demônio não existe, daí que produza todos esses “sinais” e “prodígios” tais como OVNIs e ETs. O mesmo tipo de enganação ocorre no espiritismo, onde muitos espíritos, na verdade demônios disfarçados, sujeitando médiuns ao degradante papel de “mulas” ou “aparelhos”, se passam por mortos do além e incutem a doutrina da reencarnação. E assim como no espiritismo existem falsas curas, no Fenômeno OVNI também. São os prenúncios, a preparação para a consumação do plano final que é a manifestação do ímpio (Anticristo). Este trecho de II Tessalonicenses 2:9 deixa claro que primeiro deve vir a apostasia, ou seja, a perda de fé da humanidade, o que já estamos vivendo plenamente: “…a vinda dele é por obra de satanás, com todo o poder, com sinais e prodígios mentirosos e com todas as seduções da iniquidade para aqueles que se perdem, porque não abraçaram o amor da verdade para serem salvos. Por isso Deus lhes enviará o artifício do erro, de tal modo que creiam na mentira, para que sejam condenados todos os que não deram crédito à verdade mas se comprazeram na iniquidade.”

Ora, muitos ufólogos vão ainda mais longe ao defenderem que todos os habitantes da Terra são descendentes de extraterrestres que teriam criado o homem à sua “imagem e semelhança” mediante avançadas técnicas de engenharia genética, atribuindo até aos anjos, a Jesus e a Virgem Maria origens extraterrestres, cumprindo assim à risca o plano satânico de pôr em descrédito a religião cristã e semear dúvidas até que a apostasia (perda de fé) se torne geral e maciça. Notemos que enquanto nas legítimas aparições marianas Nossa Senhora confirma inteiramente as Sagradas Escrituras e reforça o Magistério da Igreja, nos casos de contatos imediatos com “ETs” nos deparamos quase sempre com a mais completa ausência de referências à divindade de Cristo e à Santíssima Trindade, senão com a mais completa negação, ao passo que iremos encontrar uma profusão de elementos satânicos (tais como símbolos e pontos riscados da magia negra, cheiro de enxofre, seres com chifres e aspecto demoníaco, súcubos, íncubos, marca do diabo, bruxaria, feitiçaria, etc.) e da Nova Era (tais como ecologia, dietas, fertilização in vitro, clonagem, reencarnação, carma, governo mundial, consciência cósmica e até um deus cósmico, do qual todos nós faríamos parte).

Ouçamos o que disse Irmã Lúcia em conversa que manteve com o padre Fuentes em 26 de dezembro de 1957: “Ela (a Bem-Aventurada Sempre Virgem Maria) disse-me que o demônio está travando uma batalha decisiva contra a Virgem Maria – e uma batalha decisiva é uma batalha final, onde se vai saber de que lado será a vitória e de que lado será a derrota. Por isso, agora, ou somos de Deus ou somos do demônio: não há meio termo.”

O Santuário de Fátima

Todos os anos, mais de cinco milhões de peregrinos visitam o Centro Mariano de Fátima, complexo que reúne, além da Basílica e da Capelinha das Aparições, a azinheira remanescente do local onde as aparições e os milagres teriam ocorrido e os conventos que rodeiam o seu núcleo. A fé e o comércio advindo do turismo religioso convivem no mesmo espaço. Celebradas ao ar livre, as mais célebres cerimônias litúrgicas iniciam-se na noite de 12 de maio com a Procissão das Velas, que transforma o vasto recinto do santuário numa gigantesca constelação de luzes. As cerimônias culminam no dia seguinte, 13 de maio, com a emocionante Procissão do Adeus, que transporta a imagem da Virgem do altar-mor para a singela Capelinha das Aparições, enquanto a multidão agita lenços brancos numa emocionante despedida. Desde que as visões foram aprovadas pela Igreja, em 1930, passou a ser tradição andar de joelhos para chegar ao santuário. Estima-se que em Fátima, cuja população é de apenas cerca de 11 mil habitantes, haja em torno de 15 mil leitos espalhados em hotéis, instituições religiosas e casas particulares, 150 lojas de artigos religiosos, 60 cafés e bares e 50 restaurantes.
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                                              Fonte:Ocultos

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